quarta-feira, 29 de julho de 2009

a ti Sara...

3 cafés, 2 rissóis um compal de maçã... Já viste as coisas que te devo?

Os mil e um sorrisos, a companhia no Porto Leixões (em que te deixei lá longe), a companhia no hip hop sinfónico (em que tu foste lá para longe), a visita à Portucalense, a noite em Cortegaça, a recusa para dançar em Aveiro, o bar do Sr. José, o Neptuno (vês que já sei os nomes?), a aversão a gatos, o cheirinho a praia, a independência extrema, o olhar que parece não me querer ler a alma toda (e que me faz sentir bem por isso mesmo), as mensagens de bom dia, as mensagens de boa noite, e uma vontade do caraças de passar mais bocadinhos da minha vida contigo... Viesses tu ao andanças e devia-te meia vida (riste-te agora?confessa).


A ti Sara...

A ti Sara é uma lufada de ar fresco na minha vida que já cheirava a mofo.

A ti Sara fez o download de músicas do Jeffrey Lewis, e de Sonic Youth, depois de eu escrever posts no blog, e na terceira vez que a vi gostou de De la Soul e de Doors.

A ti Sara é independente e deixa-me algo à toa e inseguro com a sua independência, mas tem sempre um sorriso para me dar, e faz-me sentir confortável quando estamos juntos.


Não fumo à frente da ti Sara, aliás, reduzi drasticamente os cigarros desde que a conheci, não propriamente por ela, é mais uma das muitas desculpas que uso para me convencer que consigo fazer as coisas melhor se não as fizer por mim.


A ti Sara...

A ti Sara tem um cabelo encaracolado espectacularmente longo e bonito, tem um nariz que lhe vai mais que bem com o sorriso.

A ti Sara usa um top preto que lhe assenta lindamente, e anda sempre com uma camisola que só lhe cobre os braços morenos e que a faz parecer frágil apesar de toda a força que demonstra.

A ti Sara tem a mania de andar com o telemóvel para todo o lado, sempre a escrever mensagens, mas sinceramente e ao contrário do que normalmente me acontece, não me irrita, sei que ela também me escreve mil e uma vezes na presença de outras pessoas, e isso deixa-me feliz.


Uma vez escrevi-lhe uma mensagem demasiado entusiasmada após uns copos de vodka e de cerveja e de whiskey, a resposta seguiu-se às 8 da manhã, correcta, sincera, simpática como a ti Sara sempre foi comigo, e fiquei a gostar mais um pedacito dela, e sem dúvida a respeitá-la bem mais.


A ti Sara...

A ti Sara faz-me cantarolar músicas pirosas que nunca ouviria se não a conhecesse, não porque ela mas mostre, mas porque têm outro significado agora (ráspartam o James Morrison e o seu "you make it real for me" lol).

A ti Sara é bonita... muito bonita mesmo, com aquele sorriso envergonhado, ou com o sorriso aberto, ou com aquele ar de quem pensa na morte da bezerra, ou quando está preocupada com alguma coisa, ou quando fala de qualquer coisa de que gosta, ou quando fala de algo que a irrita, e larga sempre uma gargalhada quando eu faço piadas, mesmo que desajeitadas.

A ti Sara cheira sempre bem, umas vezes a mar, outras a shampô (de côco?) e outras ainda, a perfume.


Como diz o Tiago, o cheiro de uma menina mexe bastante connosco, e o seu ti Sara, mexe comigo...

"E mexe remexe se enrola se enrosca... " (vês a parte das músicas pirosas?)


A ti Sara...

A ti Sara teve um cão chamado Drulovic, tem um cão chamado Deco, e uma cadela chamada Violeta.

A ti Sara é uma portista ferrenha, mais que eu provavelmente, e ficou triste com a ida do Lucho para Marselha.

A ti Sara quer acabar o curso de direito e ir para África trabalhar em direito animal. Continuo a rir-me por dentro ao imaginar um antílope a entrar-lhe pelo escritório e a pedir-lhe para o defender dos Leões que não cumprem a Declaração Universal dos Direitos do Reino Animal, ou ao visualizar as cabras montanhesas a queixarem-se que os Estados Unidos não cumprem o tratado de Kioto e que o Kilimanjaro está a ficar sem neve.


E eu que fiquei com o bichinho de África, desde Angola... Há coisas que não se dizem ti Sara, são demasiado encantadoras.

Contei à ti Sara o meu sonho no primeiro café que tomámos, e ela sorriu e, apesar de algo descabido, e do café não ter corrido tão bem como esperava, foi das primeiras pessoas a não me chamar ingénuo ou a dizer-me "não sejas palerma, acorda para a vida.", a minha admiração por ela cresceu um bocadinho ai.

A ti Sara disse-me "porque é que ouves artistas mortos? Não é como se eles fossem lançar álbuns novos agora" e eu tremi por dentro, disse-me que lia Margarida Rebelo Pinto e eu congelei, agora entendo que a primeira parte foi brincadeira (certo?)... Mas confesso que na altura não achei... sou parvo.


A ti Sara...

A ti Sara tem-me aturado, e sinceramente ainda não percebi porquê, mas gosto que me ature...

A ti Sara diz que gosta do que eu escrevo, mesmo quando eu acho que é algo nheca e é mais por ela que eu tenho escrito tanto no blog.

A ti Sara merecia um texto bastante melhor que este... mas a ti Sara tem de cafézar mais umas vezes comigo para eu lhe sacar a pinta toda...


E sim ti Sara, gosto de si meio danoninho... Apesar do leite usado para o fazer...

Espero que estejas já no nosso rendez vous... não te esqueças, terra dos sonhos, terceiro coqueiro na estrada para o Burkina Faso, eu estou lá com o meu acordeão para que sigas o som...

Um dia destes vou-te ensinar a mazurka menina, prometo que vou treinar direitinho no andanças, para que depois não te pise pés...


_____________________



A ouvir:


"Plenty"


Guru (Jazzmatazz) feat. Erykah Badu


álbum:Street Soul vol.3


link

Janina

Este texto vem duma brincadeira feita com a Ana, uma amiga que possui um dom de escrita fantástico e com quem iria partilhar um blog, coisa que felizmente não aconteceu pois assim tenho eu o meu e ela o dela, e fico muito contente por isso mesmo. O exercício consistia em fazermos a descrição de uma amiga comum, a Janina, pessoa bonita e alegre e que encanta todos quantos a conheçam... o resultado do exercício da Ana está no seguinte link: link

Para este dispenso a rubrica do "A ouvir" pois já não me lembro o que estava a ouvir quando escrevi isto...




Janina



Yemanja deusa do mar por vezes, o fino ao pôr do Sol e o seu sorriso aberto nas outras...


Acho que nunca vi a Janina séria, acho que nunca a vi sem aquele esgar de quem vive porque a vida vale realmente a pena. Sempre que olho para ela penso que a podia ver num qualquer sítio e nunca estranhar, é o tipo de pessoa que não só está bem em todo o lado como faz os possíveis para que todos se sintam bem em seu redor.


Já me aturaste tanta treta ti Janas...


Tem uma luzinha interior que topei desde a primeira vez que a vi, aquece-nos de forma tão clara e evidente que ficamos com a impressão de que lhe é facílimo fazê-lo... Com o tempo percebo que às tantas lhe é mesmo...

Nunca confiei muito nas pessoas, embora seja fácil conquistar-me para determinado espaço, mas nunca foi fácil a ninguém manter-me perto, mas o centro gravitacional dela é de tal forma imenso que fico com a leve sensação que será sempre difícil escapar-lhe...

Não fossem as circunstâncias...


Sinto algo de não familiar quando falo com ela, sinto-me confortável e à vontade, e tenho vontade de explodir em segredos por saber que ela sorrirá e dirá "não te preocupes, não o direi a ninguém". Sei que lhe custa, por parva que seja, a minha incapacidade de me manter algo fixo. E é estúpido tendo em conta o quão pouco nos conhecemos (ela conhecer-me-á melhor do que a conheço a ela certamente). É estranho que das muito poucas pessoas que me viram no meu melhor e no meu pior ela, que conheço há meia dúzia de meses, seja uma delas. E não obstante isso dá a impressão de se preocupar e

de perdoar as inúmeras asneiras que faço.


A Janina é no fundo igual a ela própria, lábios abertos cabelo encaracolado e rastas e terérés.


A Janina viu cinematic orchestra comigo e virou-se para trás e disse-me "espectáculo".

A Janina leu uma mensagem que mandei a alguém num pico de felicidade e respondeu-me "e olaré". A Janina deixa-me com saudades dum mundo de que me afasto a cada dia que passa por inércia de me ser com outros. Com mais saudades do que algumas outras presenças de longa data. A Janina fica encavacada com o meu gozo sobre o seu suposto romance com outra personagem em tudo bom essencialmente no coração, e eles merecem-se no mundo um do outro, da forma que decidirem ser um com o outro. E faz-me feliz que boas pessoas encontrem boas pessoas, e invejo-os por não conseguir ser um deles.


Eu achava que a Janina se chamava Janine, mas ela tem pouco de francesa, muito de Espinho, e, tal como o nosso elo de ligação, muito de Andanças sem nunca lá terem estado. Nesse momento em que estava a criar um novo eu tomei-as às duas como exemplo e pilar... Neste momento em que me sei um eu mais antigo e escuro tenho-as como referência de que um dia sonhei.


Nunca vi as suas obras de arte, mas tenho a certeza que é boa artista, mais genuína e simples que eu de certeza absoluta, e se não o é na tela, é-o com certeza na vida...


Nina de Jah é um bom nome sim senhor... É tão paz quanto possível, tanto quanto eu gostaria de ser.

terça-feira, 28 de julho de 2009

1/1 5:00 28/7 3:00


É... A noite abraça-me a mim e à garrafa de tinto quase vazia na minha mão esquerda.

E foi aqui que o meu passado morreu. Não que eu tenha saído a ganhar com a troca, mas nesta mesma praia, com essa mesma música que me disse tanto e, que, agora me diz tanto de modo tão diferente, enterrei-o de vez. O futuro esse permanece indefinido, gigante e assustador na sua imensidão de oportunidades, de encruzilhadas, de escolhas, de pequeninos passados que construo a cada momento que passa.

Levanto-me e pego na imaginária mão da pessoa que aqui não está, ponho-lhe a mão nas costas e simulo uma mazurka na areia, pés descalços e voltas que provavelmente nunca hei-de dar com ninguém.

Apesar de sozinho sei que cada estrela lá em cima me brilha sorridente pois vê que eu finalmente entendi.

O telemóvel vibra, tiro-o do bolso e ponho a mão à frente do visor para me habituar à sua luminosidade... És tu e as tuas boas noites habituais... Olho para as estrelas e sorrio-te... perco algum tempo a escrever-te e volto a agarrar-te apesar de cá não estares, repito esta música vezes e vezes sem conta, como o fiz noutras vezes em que a vida se ria (por partilhar a minha felicidade e tolice? Por partilhar o meu medo e nervosismo? Por ser sarcástica e por saber que tal felicidade não duraria muito? Não vou perder tempo a pensar nisso).

Sinto a sua esguia face branca a observar-me e juro que senti que a Lua me deu uma palmada no ombro...


Queria ligar-te e cantar-te:

"Let's get lost, me and you

An Ocean and a Rock is nothing to me"

Não o faço... Guardo isto para mim, com medo de te assustar, de te afugentar, de seja o que for...


O telemóvel vibra novamente e ganho a noção que te tenho no meu bolso direito gritando-me "Estou aqui tira-me de uma vez para dançarmos"...

Com medo que seja o álcool a falar mais alto respondo-te apenas com um "bons sonhos pequena". Dou uns passos em direcção ao mar e deixo-o acariciar-me os pés, a água fria lava-me a ferida no dedo grande e faz-me cócegas nessa brincadeira inocente entre o meu estado de espírito e a Natureza. Solto um riso abafado, por não querer perturbar o silêncio do manto negro que se ergue sobre a minha cabeça.

Volto à garrafa, dou um golo e dois e três e quatro até a esvaziar, sinto o vinho a passar-me a garganta e a aquecer-me o estômago roubando-me a atenção do meu coração por uns segundos... E tudo isto me faz sentir bem, e grande, e criativo.

Tu fazes-me sentir criativo, vês? Apesar da pouca importância que cismo que tens (mas tens-na, mesmo que pouca) fazes-me sentir criativo, e não é propriamente por estar à espera de mais do que isto, nem por saber que o teu sorriso me alegra tanto, ou por adorar a forma como o teu cabelo esvoaça quando andas, ou por gostar da forma como tentas olhar-me nos olhos com esse teu castanho tão expressivo para quem nele procure expressão, ou por sentir que nos entendemos bem apesar de tão diferentes. Fazes-me sentir criativo porque te sei aqui, quando sinto as sacudidelas no meu bolso.

Decido que está na hora de ir para casa... levo as sapatilhas na mão, quero sentir o asfalto ainda quente do dia nos pés, e os paralelos irregulares que me massajam lá à frente, e o tijolo na entrada da minha casa a cumprimentar-me. Vejo o gato da minha vizinha e páro para lhe afagar a cabeça... Lembro-me da tua aversão a gatos e sorrio contente...


Ao chegar ao meu quarto depois de ter escrevinhado qualquer coisa no meu bloco ainda ouço a Lisa Hannigan a cantarolar-me:

"An Ocean and a Rock is nothing to me"

Efectivamente não são, são apenas formas de canalizar memórias, as já criadas e as que ainda criarei...


"Let's get lost, me and you"


Foi ali na praia que o meu passado morreu. O luto está cumprido. O presente apenas a mim pertence.


A mim, e a ti, ainda fechada no bolso dos meus calções molhados...

Bons sonhos pequena...


__________________________


A ouvir:


Ocean and a Rock


Lisa Hannigan


álbum: Sea Sew


link




P.S. (Sim, eu sei que a Lisa diz "An Ocean and a Rock is nothing to me" no sentido da distância não representar, para ela afastamento entre duas pessoas. Sim, sei que estou a deturpar o sentido da frase quando faço de conta que o oceano e a rocha não significam fonte de inspiração. Sei que é parvo estar a escrever isto aqui já que practicamente ninguém lê o blog, e os poucos que lêem saberão que deturpei o sentido da frase intencionalmente, e não por lapso, mas de qualquer forma fica aqui a adenda feita)

domingo, 26 de julho de 2009

Big Sur

A Nortada levantou o nevoeiro da manhã e atirou-me areia à cara... Olho para as árvores que sorriem nas montanhas e penso que o meu tempo aqui acabou...

Mando dum trago o pouco whiskey que ainda resta na garrafa do ti Jack e atiro-a contra uma rocha estilhaçando-a em direcção à areia... Pego no leitor de mp3 e o shuffle faz a manhã brilhar mais:


"I dig my toes into the sand

The ocean looks like a thousand diamonds

strewn across a blue blanket"


Olho para o grande azul à minha frente... Isto é o mais próximo do eterno que alguma vez tive.

Espero que a música acabe, tiro a camisa de flanela e as calças, e mergulho envolvendo-me o mais possível no Pacífico, sentindo as suas águas salgarem-me a pele... Dou meia dúzia de braçadas e perco-me a pensar:


"I wish you were here"


Passo a toalha pelo cabelo, pego no telemóvel e ligo-te. Já não falava contigo há dias mas a tua voz ajuda-me a pôr tudo em perspectiva, sabes-me bem, mesmo longe.


"Oi..."

"Olá!" E mesmo tendo em conta que estamos separados por um continente inteiro e pelo Atlântico eu juro-te que vejo o teu sorriso, e que o sinto, igualzinho ao meu... "Onde estás?"

"Big Sur"

"Como o Kerouac?"

"Como o Kerouac."

"Sabes que sinto o cheiro a álcool daqui?" e dás uma gargalhada.

"Sério?Não é por estar bêbedo.."

"Eu sei... Como vai o livro?"

"Melhor, mais um ou dois capítulos e acabo-o..."

"Estou com saudades..."

"Eu também, hoje já vou para o México, para a semana chego e vais finalmente ler o livro."

"Saudades tuas, não de ler o que escreves... Também de ler o que escreves, mas... Tu sabes o que quero dizer...Vais visitar o Virgil?"

"Não, vou tentar não parar em L.A. para poder jantar em S. Diego, mas o Phill vai ter comigo a Tijuana."

"Dá-lhe um beijinho meu..."

"Dou sim..."


E ficamos durante uns segundos sem dizer nada, eu a tentar ouvir a tua respiração por cima do vento, e tu a pensar no que quer que seja...

"Eu..."

"Não digas pequena..."

"Há coisa que não devem ser ditas, mas vividas ao extremo? Como na tua música não é?"

"Sim...Isso mesmo.Vá pequena, tenho de ir andando, ainda vou guiar 9 horas hoje, vais jantar com elas?"

"Sim, vou comer uma francesinha por ti.Beijinhos"

"Beijão"


Desligo, e tu não vês, mas as saudades carregam-me os olhos neste momento, a felicidade de te saber, com as duas covas que fazes no lado direito do rosto quando sorris, lá no velho mundo a ser-me presente. Volto a vestir-me atiro o saco cama para dentro da mala do carro, olho para o mapa durante uns minutos, ponho o mp3 no carro puxo a música para trás:


"I lean against the wind

Pretending I'm weightless

And in this moment I'm happy, happy...


I wish you were here"


E eis que parto em direcção à auto-estrada, a Tijuana, ao México, aos dois capítulos por escrever, e, consequentemente a ti...



______________________


A ouvir:


Wish you were here


Incubus


álbum: morning view


link



sábado, 25 de julho de 2009

Paradise

A continuação da história apresentada há uns dias:


“What a beautifull world so fragile and

fertile, pain filled the void when boy met girl.”

- “Paradise” Eydea


Eles


Os seus mundos colidiram após vários

encontros fugazes... Ele na sua vontade de

ser mais sendo-se menos, ela confiando na

aparente bondade dos olhos dele... Ambos

desajeitados tratavam-se na palma das

mãos, e de palma para palma transferiam

tanto, como quando se olhavam nos

olhos, ele sentia-se como se conseguisse

ser mais nela. Finalmente alguém grande,

finalmente alguém além de si... A cor dela

pintava-se com força por dentro dele em

pinceladas espessas como num quadro de

Van Gogh. Tão antagónicos, tão receosos,

e apesar disso tão felizes naquele fim de

ano... Ahhh aquele nervoso miudinho do

início de relação, aquele cheirinho entre o

medo da entrega e a vontade de se serem,

a inocência da ilusão, a ténue linha entre a

não pressão e a vontade de estarem

juntos...

Nasciam-se todas as noites naquele riso

cúmplice de quem diz, “eu sei-te aí, e sei

que queres aqui estar”. Viviam-se num

constante agradecimento, gostavam-se

longe de dependências e tragédias

hiperbolizadas como todos os casais se

vivem nos primeiros meses.

Sem medo de se viverem, numa

experiência que fazia ambos sorrir mais e

sentirem-se melhor.


________________________


A ouvir:


"Paradise"


Eydea & Abilities


álbum: E&A


link






quarta-feira, 22 de julho de 2009

100%

O rádio do meu carro anda sem código há sensivelmente 7 meses.


A primeira pergunta que me fazem quando entram no meu carro é sempre "Como é que alguém que adora tanto música consegue viver sem o rádio a funcionar?". Duas explicações sumárias, a música está na minha cabeça, não preciso de um rádio para a ouvir, e, além disso sou muito de ondas quero sempre ouvir aquela música em particular e para isso ando sempre com a mão no leitor de mp3, e a atenção também. Poupo em acidentes, ganho em concentração e, obrigo-me a um exercício mental que me leva a pensar muito mais a música, a ganhar noção do som de cada instrumento, de cada sílaba, de cada cadência, cada ritmo...


Estranhamente passei a viver a música muito mais desde que fiquei sem rádio.... Não que não a vivesse antes, mas... é uma experienciação diferente que me leva a tomar o processo criativo muito mais em conta.


Reparei também que desde que perdi o rádio voltei ao punk e ao rock alternativo, passo muito tempo a ouvir Sonic Youth, e Velvet Underground e Crass e Ramones e Mars Volta e outros que tal. O barulho vive-me no cérebro de uma forma ridiculamente cómoda.


Na verdade estou a mentir, por muito interessante que possa ser imaginar a música em vez de a ouvir, poderia muito bem arranjar o código e manter o rádio desligado... Na verdade sou preguiçoso, e, essencialmente por isso não tratei ainda do assunto.


Além disso, o rádio no carro permitir-me-ia voltar a ouvir música que em casa não tenho por norma ouvir, e sinceramente o meu mundo andou muito escuro para me atrever a escutar Hendrix ou Zeppelin, quanto mais de la soul ou tribe called quest.


Estou bastante passivo quanto à situação do meu rádio, o que é também um pouco um reflexo da minha atitude quanto à minha vida neste momento... Não vou mais esforçar-me para que as coisas aconteçam,.. Para quê? Acaba tudo sempre a não depender de mim, porque raio é que hei-de forçar semelhante afronta à minha condição de Deus do meu próprio

mundo?


O meu carro, o "ninho de água" perto de S. Bento e o antigo farol da Aguda às 2 da manhã destas noites quentes de Verão, são efectivamente o único espaço neste mundo que considero efectivamente meu... E nestes três pontos eu sou rei e senhor, e quero sentir os efeitos da minha vontade, ainda que a minha vontade seja apenas a de manter o aspecto apático de tudo.


Sou Deus de mim, e Deus das minhas pequenas coisas...


Tão cedo não voltarei a beijar ninguém no meu carro enquanto ouço Sonic Youth, muito menos Moldy Peaches no rádio...


E de certo modo fico até contente por isso...



____________________________


A ouvir:


"100%"


Sonic Youth


Álbum: Dirty


link (para 100% e Empty Page ao vivo)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Silêncio

E porque no início tudo isto era poético, acho que faz todo o sentido postar um dos meus primeiros poemas a sério...

Silêncio

Usas demasiado as palavras
E elas perdem o seu sentido
Num sentido irreversivel


Quero expressar
Talvez não uma imagem
Porventura uma ideia
Um som... sim... um som.


Não são os sons
Bem mais poéticos?
Mais verdadeiros?
Mais genuinos?
À falta de paciência
No excesso de desilusão
Calo-me, nao ouço e remeto-me ao silêncio.


Porque as palavras são demasiado usadas
Estao gastas de tanto uso
Ja não se ouvem quando as dizes
Ja não são palavras...


São para ti desculpa...


São para mim dor...


Antes fossem silêncio.


_________________________

A ouvir:

Accordion

Madvillain

Álbum: Madvillainy

vídeo: link

Ela e Ele

Este é o início de uma história maior, projecto que vem sido desenvolvido desde Fevereiro deste ano, e entretanto por vicissitudes do processo criativo ficou em águas de bacalhau... Ponho aqui as primeiras linhas como aperitivo, e como forma de me obrigar a trabalhar quiçá um pouco mais nisto. Espero que gostem.



Ela


O seu sorriso é paz desde o início, desde que os seus lábios começam a crescer, e, o seu rosto escuro e bondoso, com um calor imenso e gigante aquece todos os que a rodeiam.

Vê-la a passar é estranhamente reconfortante, como se à sua passagem fantasmas e demónios corressem para se esconder, sob pena de perderem o seu negro para a cor que explode dela. Até a sua expressividade tem a inocência de uma criança, embora os seus olhos revelem alguma saudade disso mesmo.

Pumbabatutum, é desajeitada e feliz até quando não o é, é o espelho dos dias quentes de Verão, e as musiquinhas psicadélicas de MGMT, e cor de terra, e cães, grandes ou pequenos correndo e latindo numa praia fugindo das ondas que lhes molham as patas e voltando à areia molhada para a cheirarem, é um musical cómico que nos põe um sorriso gigante e nos faz sentir bem.

É também no entanto um pedaço de Jackson Pollock que não conseguimos bem perceber, definitivamente bela, mas duma beleza tão complexa que nos espanta, quiçá assusta.

Menina de vermelho... Quente e fantástica como poucos.

A Menina de vermelho cheira a África...


Ele


Isolado na sua cela bem lá no cimo da torre, ele é-se só. Tem liberdade para sair e entrar quando quiser, mas raramente sai com medo do que o espera por fora. Perdido no seu vazio ele não se achava preenchido nem realizado mas preferia-se

assim para já.

Filho da cidade, prático, algo cínico, com cheiro a cigarro e olhos cinzentos esverdeados que lhe definiam o espírito da forma mais exacta existente, alguém que apesar de quadrado gostaria de ter a coragem de fugir para esse mundinho de cor que alguns à sua volta evidenciavam...

Sabia-se desajeitado pelo que pouco falava. Sentia-se confortável naquelas noites de nevoeiro intenso, ou nas manhãs frias e limpas de Fevereiro. Acima de tudo sente-se confortável sozinho a pensar que preferia estar com alguém. Tudo o que envolva mais do que si próprio tira-o da sua zona de conforto.

É os c’s mudos das palavras a serem pronunciados, e a confusão e o caos do saxofone de Coltrane na fase final da sua vida, com cor por dentro mas com a morte a medi-lo de alto a baixo, durante toda uma vida...

Procura-se nos outros, quando os outros são o que mais evita...

O menino cinzento transpira Europa.



_____________________________


A ouvir:

"Trans Fatty Acid"

Kruder and Dorfmeister

Álbum: The K&D Sessions

sexta-feira, 17 de julho de 2009

la vie en rose?

A madame Piaf:




Envolta no seu ar tímido deu dois passos em direcção ao foco, dois passos minúsculos deslumbrada pelo medo que a deixaram descentrada no foco e longe do microfone...

Lançou o seu sorriso nervoso e soluçado na direcção do público e disse "Bonne nuit", um aplauso estrondoso rompeu a solenidade daqueles momentos que o antecederam, ela olhou quase espantada em frente na sala escura, para o público não iluminado como se se visse sozinha numa sala tão imensa, e, como se as palmas fossem apenas fruto da sua imaginação.


Um, dois, três, quatro e...


Pintou a sala com a sua voz, criava o público a cada sílaba, deixando o medo para trás, e ganhando aquele espaço e a sua cor. Cantava não pela aprovação, mas sim por necessidade.

Começou a ver as caras das pessoas nas filas do fundo. E a cada cara que via soltava mais de si e fundia-se cada vez mais com o que cantava. Olhou para o guitarrista que tocava de olhos fechados, ele sentia-a tão bem, completava as suas frases não só com mestria mas como se seguisse nota após nota o pensamento dela.


Sublime...


E no camarim ficaram as brigas, e os gritos, e os maus ensaios, e a vida fora da música.

E pelo ar espalhara-se o nervosismo até se dissipar totalmente dividido por todo o público que ela própria criara.

Era ela canção... Definitivamente canção. Apesar das costas arqueadas, do ar velho, das olheiras, das cirroses, da pancada, do reumatismo, e da dor, o que ela se tornara valia a pena, e por isso mesmo cantava:


"Non, Rien De Rien..."



_________________________


A ouvir:


"La vie en rose"


Edith Piaf


Álbum: La vie en rose


link

terça-feira, 14 de julho de 2009

Viagens

3 da manhã.


3 da manhã!?


3 da manhã...


E no cheiro do mar que me invade o quarto janela adentro reside uma capacidade imensa de uma e outra vez me fazer sentir a melancolia destas noites de Verão, e penso que o dia de hoje apesar de tudo foi bom...


Marrocos...


Marrocos...


Marrocos...


Ainda estou a imaginar a desilusão na cara deles quando o militar olhou para aquele passaporte e rosnou as fatídicas palavras


"Não é válido..."


E ao olhar para a cara de desapontamento deles olhei à volta, naquele hangar onde o asfalto quente me fazia semicerrar os olhos estava o avião que nos deveria transportar até Ksar el Kebir, impondo o seu verde majestoso como se troçasse de nós:


"Aventura hein? Mandarem-se à maluca? Para a próxima metam realidade nisso que já não deixam os passaportes caducarem"


Sorri-lhe de volta o mais cínico que podia. Olhei em volta e a rapariga olhou para mim com uma vergonha enorme, como quem deixa um quase desconhecido mal depois deste confiar nele... O meu sorriso passou de cínico a divertido e tentei brincar com a situação:


"Para a semana à mesma hora?"


Só ela se riu...


...

...


"E ainda vais demorar 3 horas a chegar lá acima... desculpa"

"Tenho o moleskine comigo, trago sempre o moleskine comigo..."

"Mas tu não gostas de escrever no moleskine. Eu sei disso, vês?"


Esteve comigo duas vezes na vida... Uma na fila de espera por um avião rumo à majestosa Viena de Áustria, que era para ela e para amiga naquela noite um ponto de passagem, e a outra no dia a seguir (ou dois dias depois?) quando ainda ressacado e depois de a ter feito esperar-me uns 25 minutos por causa da viagem relâmpago (tentei eu que fosse... ) de Nussdorferstrasse até Stephensplatz dei o meu melhor como guia turístico improvisado para lhes mostrar os monumentos da cidade em 2 ou 3 horas.

E, apesar dessas "apenas" duas vezes, o milagre da comunicação informática que mantivéramos depois fazia-a saber bem mais de mim do que muita gente com quem partilho o dia a dia...


"Mas tu não gostas de escrever no moleskine. Eu sei disso, vês?"


E tem razão...sempre preferi folhas soltas, um caderno envolve demasiada responsabilidade, como se cada frase tivesse que sair perfeita, como se no caso de algum dia o perder, alguém que nele tropece ao ler uma página tenha de se sentir imediatamente compelido a ler tudo de uma vez...

Tenho imensos moleskines, mas ainda estou longe de ser suficientemente bom para escrever neles...


...

...


E não viajei para Marrocos... Como se a premonição de meses antes estivesse certa apesar de me ter esforçado ao máximo para que errasse... A verdade é que hoje quando saí de casa de manhã sabia que não iria embarcar naquele avião... Algo dentro de mim me dizia que não era bem possível, que por qualquer arte mágica o meu sonho de voltar a pisar África fosse acabar numa viagem a Lisboa e de volta. Nunca me passara pela cabeça que fosse por causa de um maldito passaporte fora do prazo... Estragado como um iogurte, como se a identidade que apregoava nas suas páginas deixasse de fazer sentido para a burocracia, como se de repente o ser que representava perdesse o significado...


Perdi-me a pensar em metáforas imensas entre aquele passaporte que podia ter significado tanto para nós os cinco (dos quais três nem conhecia), e o meu moleskine em branco no meu bolso...


"Quando chegar a casa escrevo isto... Este moleskine fica guardado para quando for a Marrocos. Vingá-lo-ei por esta viagem de hoje." ri-me para mim.


...

...


3 da manhã.


3 da manhã?!


3 da manhã...


E a viagem a Marrocos era no fundo só uma forma de me dizer que podia viver os NOSSOS sonhos de uma forma só MINHA. O cheiro do mar que me invade o quarto janela adentro traz-me recordações daquela noite em que agarradinho a ti encostado a uma rocha vira o Sol a nascer nas nossas costas a reflectir-se no mar, uma luzinha nova por cada onda, uma luz maior a cada segundo...


Irónico não?


"Como raios é que era a metáfora do moleskine e do passaporte? Raios... não me lembro... odeio moleskines."

__________________________


A ouvir:


qualquer cover dos Crass por Jeffrey Lewis


(Estou muito preguiçoso para perceber qual é que me fez começar a escrever este texto, perdoem-me :) )


Deixo-vos uns links para vídeos das covers do homem... Não deixem de as ouvir... são fenomenais...


End Result (vídeo)

Systematick Death (vídeo)

I ain't thick (ao vivo)

Punk is dead (ao vivo com filler no início se tiverem pressa avancem até ao minuto e dez)


quinta-feira, 9 de julho de 2009

reflexões

Ao fundo do pontão o reflexo do Sol cria milhões de centelhas reluzentes no mar (acende-se-me o espírito), os inúmeros salpicos batem-me na cara relembrando-me da liquidez do meu ser (acalmam-me o fogo).

Sem um objectivo concreto estico tal qual hidra todos os tentáculos em todas as direcções, na esperança de que algum sinta futuro.

Sou este oceano imenso à minha frente, este azul infinito que se distingue do horizonte e se prolonga até o olhar nele se perder... Até onde a alma me vai.

E penso no que terão sentido os que há quinhentos anos se aventuraram neste desconhecido (que ainda hoje o é apesar de tudo). Medo? Fascínio? Respeito? Será que tinham noção de que faziam história a cada milha? Que para todo o sempre deixariam imensos de nós com vontade de ter vivido o que viveram?

Uma onda rebenta à minha frente e faz-me dar dois passos atrás.

Parto eu também um dia destes para o Novo Mundo. O meu novo mundo. Atravessarei eu também o mesmo oceano que eles... Pena já não existirem caravelas...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Somersault pt.2

Como prometido aqui fica:





O Sol batia-lhe na cara, as plantas dos pés queimavam-se na areia... Vida de Verão...

Deixava-se perder nas ondas daquela praia vazia, mar verde azulado, paz.

Ao longe viu-lhe a silhueta, e na antecipação da aproximação perdeu-se a imaginar o que ela poderia ser.


"Olá, o meu nome é..."

"Vic" - sorriu de volta

"Importas-te que estenda a toalha aqui junto a ti? Sei que a praia é grande mas..."

"Força, por quem sois..." - brincou ele.


Ela sorriu de volta e iluminou-lhe ainda mais o dia... Não querendo chateá-la e afugentá-la voltou-se para o seu livro com uma sensação boa a percorrer-lhe o peito. Ela tirou as roupas calmamente, dobrando cada peça meticulosamente e pondo-as dentro do saco laranja que trazia ao ombro, ele observou-a pelo canto do olho e procurou uma desculpa para fechar a mochila e não mostrar os rodilhos que lá tinha desordenados e desarrumados.

Deitou-se ao lado dele e tirou o leitor de mp3, ele ouvia como que ao longe o acordeão e ficou contente... pensou em mazurka pensou em Yann Tiersen, pensou em como tudo soava melhor numa tarde de Verão...


Por cima deles uma brisa levantou-se e fez abanar os pinheiros que estavam a poucos metros da areia, e o silêncio bom era só interrompido por aquele leve ruído do silvo das agulhas no pinhal.


"Há coisas que ficam tão melhor quando não são ditas" pensou.


Rodou numa meia cambalhota e pôs-se em pé.


"Vou à água" - justificou-se.

"Ok ginasta, até já" respondeu-lhe ela num risinho feliz.


Pôs um pé na água transparente e fria, e fez um esgar treteiro de incómodo... Avançou uns passos e mergulhou na primeira onda que veio.

Desde miúdo que considerava o mergulhar no mar como um ritual. Purificava-se ali, deixava o mundo para trás naquele cantinho do cérebro no qual não tinha de se incomodar com as coisas, na categoria das coisas "pouco importantes".

Neste momento pensava apenas como encetar uma conversa com ela, imaginava diálogos com ela de forma a estudar a melhor forma de simular um perfeitamente casual, mas suficientemente estudado para que não se sentisse perdido, nem sem saber o que dizer.


Ela sentara-se na toalha e olhava para ele lá longe, e pensava que o fulaninho parecia simpático... sentia a cumplicidade que ali se estava a criar e achava irónico que sem sequer o conhecer tivesse tido aquele feeling de juntar a sua toalha à dele... do nada... Achara piada à cambalhota para trás, como se ele a estivesse a tentar impressionar, decidiu tentar algo diferente...

Aproveitou a duna e deu um mortal encarpado...

Ele deitou-lhe um ar de espanto:


"E o ginasta sou eu?"

"Também és... mas não és o único" retorquiu feliz "Apeteceu-me ser criança"

"Hmm hmm" e fez um handspring na direcção dela.


A tarde passou-se entre risos e demonstrações acrobáticas na areia...

...

...

...


Ela aproximou-se dele e perguntou-lhe:

"Importas-te que estenda a toalha aqui? A praia está vazia mas sempre é mais seguro"

"Hein?Claro...por quem sois..." brincou ele acordando do sonho.

"Obrigado" disse ela e sentou-se sem um sorriso...


Há coisas que são melhores quando são sonhadas...


segunda-feira, 6 de julho de 2009

incongruências...

Dedicado a N.





At the beggining there were two...


E não sendo perfeito, era bom, talvez mais que bom... Havia esperança em serem-se individualmente, mas não extremos.

Havia aquela sensação de conforto, havia as mensagens noite fora, havia o "estou cá... se precisas eu estou cá", havia uma rede para o trapézio, e vontade de treinar, até ao momento em que a rede não mais fosse precisa, até ao ponto em que a corda poderia ser substituída por um fio de seda apenas, e que, de tão leves, eles conseguissem atravessá-lo vezes e vezes sem conta, de olhos fechados...


And she felt scared...


E no medo de se entregar, e na desilusão de ele não ser o que ela procurara, e no não querer magoá-lo, foi-o afastando de si sem nunca lhe dar a oportunidade de tentar mostrar que podia tornar-se no que ela queria, sem no entanto, perder a sua essência, porque o que ela procurava era o que ele sempre tinha querido ser.


And then there was one...


E o um que ficou não se perdoaria nunca por ser tão nada, tão desnecessário, tão inútil. O um que ficou sabia que era o único que ainda pensava nisso, sabia que a disparidade entre ambos era gigantesca, e arrependia-se a cada momento por se ter recusado a acreditar que tal fosse verdade.


And the ocasional meetings happened...


E uma e outra vez ele sentia-se cada vez mais a mais, sempre que tentava aproximar-se do seu próprio mundo, que era agora também dela, apenas para poder ver nela um sorriso que fosse, sentia-se empurrado para longe, longe do que antes tinha (ainda sem ela), longe do que ambos tiveram, longe do que tinha lutado tanto para conseguir.


And finally he decided to live...


E tentou levantar a cabeça, e recriar-se noutro sítio, com novas personagens, com vontade de pegar nos pedacinhos, que ela achara ter-lhe ensinado mas que ele já tinha dentro de si muito antes dela aparecer, e voltar a ser o que sempre quisera ser. Mais confiante em si e nos outros, mais focado no futuro, mais ele.


And it seemed to work out...


E por momentos ele achou-se bem, conseguia sorrir sinceramente (pensava), e conseguia pensar nela apenas com carinho e saudade, e cada vez mais sem dor. E ela que lhe parecera tão distante, continuava lá longe, mas ele sentia-se a aproximar da sua AMIZADE a cada passo que dava, não porque tivesse uma esperança desmedida de que essa viesse a acontecer (de facto parecia-lhe quase impossível), mas porque começava a sentir-se um ser humano melhor, e, por isso mesmo, merecedor de pelo menos isso.


And they happened to meet again...


E ele nem coragem teve para lhe perguntar "está tudo bem?". Com que direito? Se ela o tinha expulsado tão categoricamente do seu (do deles, do dela e inadvertidamente e sem intenção do dele também) mundo, como iria ele algum dia achar-se menos que um invasor do seu (dela apenas) espaço?

Queria apenas mostrar-lhe que apesar do quão inútil ela sempre o fizera sentir, que entendia que não tinha sido por mal, e que o carinho e a preocupação permaneciam e que eram genuínos e grandes. Mas ela nunca lhe dera o espaço para que tal acontecesse.

No fim de contas ele tinha-lhe dito "faz de mim o que precisares" e ela fez dele o monstro de que precisava para não ter de se preocupar mais com os seus medos.

Disseram-lhe (a ele) uma e outra vez que era o único que ainda sofria com tudo aquilo, que estava na altura de andar para a frente, mas ele não podia dar aquela situação por resolvida...


Time and space never healed anything...


E era essa a única lição que ele sempre pretendera que ela aprendesse com ele, e mais uma vez tinha falhado...E mais uma vez estava sozinho na sua cela com as tais paredes negras de 40 metros de altura, a culpar-se por cada passo, apenas porque nunca tinha querido fazê-la sentir peso algum, mas porque desde o início sabia que não era suficientemente forte para arcar com tudo o que ela indirectamente lhe pedira, mas ao menos, (ele) tinha tentado, e acima de tudo, mostrado vontade de lutar por eles, eventualmente por si, mas sempre por ela.

E o saber que mais uma vez não passara de uma "tentativa" e ainda por cima falhada, e que mesmo depois disso, apesar dos erros de ambas as partes ele tinha dado tudo o que tinha (incluindo assumir as culpas de tudo inclusivé do que não era culpa dele, incluindo abandonar o seu (dele) mundo para o seu (dela) conforto, incluindo lidar com problemas que nem seus eram para que o mundo à volta dela ficasse mais leve, incluindo sofrer com tudo isto e ser acusado de fazer sofrer quando procurava um apoio que fosse) para solucionar algo sem solução, saber que mesmo depois de ter ficado practicamente sozinho, e sem nada que pudesse chamar de seu ainda iria sempre ser tido como "o fulano que fechou as portas" quando ela na realidade o tinha escorraçado do seu mundo muito antes de sequer o perceber.

De todas as coisas que ela achara ter partilhado com ele apenas uma lição ficara, e, decerto não a que ela pretendera que ficasse:


"You can't fly so close to the Sun and expect not to get burnt"



_________________________




A ouvir:


"Love will tear us appart"


Joy Division


àlbum: Closer


vídeo


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Somersault

Ia escrever uma história à volta deste som... mas... ahhhhhhhhhhh deixo-vos o link (aí onde diz link mesmo) para a música e deixo-vos aqui a letra... Há poucas fusões tão perfeitas como esta... MF DOOM (aqui com o pseudónimo Viktor Vaughn) e Zero 7... o raio do Danger Mouse teve olho sim... perfeito...
E tão Verão meu Deus.... Tão Verão...

Somersault (Danger Mouse Remix) - Zero 7 feat. MF DOOM

"You put my feet back on the ground
Did you know you brought me around
You were sweet and you were sound...
You saved me

She wondered would it hurt again, a scary new setting
a Mary Lou Redding, perfect 10, was it worth it then
he woulda made the clicks switch way back
for a quick pitch in the haystack
with a bad bitch, like payback with interest
used to keep a nice cool trimless
flipped it for a highschool gymnast
she was thicker than the kick off supersonic
sicker than the bubonic, to Vik it was plutonic
wow...found a new playmate,
at this late stage he couldnt get the name straight
told her it was all up in your calf muscle,
showed her how to pull it off
brawl, laugh and tussle
at one point, she thought he was a lame cat
with game for the rats, a dog to claim the blame at
he told her maybe its your mama fault, for givin you the shaker
somey-somey-somersault

[Chorus - Sia Furler]

You put my feet back on the ground
Did you know you brought me around
You were sweet and you were sound
You saved me

Butterflies at the very mention
the flutter of her eyelashes helped to clear the tension
then went and tripped and fell head over heels
for V, and got dirtier than Red Rovers wheels
no matta how high stake the price,
this good luck charm on his arm, shake the dice
its gymnastics, practice makes nice
she's not the type to be enticed by fake ice
ahh, the stench of first love
the quench of the thirst made it worst, you need a burst of
upper-thrust motion, trust, devotion
lust is like the sand where the beach meet the ocean
soaking, felt joy in her whirlwind
never ever did he mention boyfriend/girlfriend
demanded her respect
then ran and did a handspring, almost landed on her neck

[Chorus - Sia Furler (Viktor Vaughn)]

You put my feet back on the ground
Did you know you brought me around (Somersault)
You were sweet and you were sound
You saved me (Somersault)
All
All
You give love to all"

Se alguém souber que álbum contém esta pérola avise por favor...

Se entretanto me sair algo de jeito eu posto... mas confesso que é intimidante :)

Respiremos fundo

Acho importante deixar aqui referido, que embora todos os texto que tenho escrito se inspirem obviamente em situações reais, de forma alguma são retratos de situações que tenham efectivamente acontecido, nem quero, de maneira nenhuma ferir susceptibilidades com os mesmos.

Tenham em atenção que não me baseei, até agora, em nenhuma pessoa em particular para inventar uma personagem, e que geralmente todos os figurinos que rondam os meus textos são mesclas de muita gente e de gente nenhuma.

Com isto, resta-me dizer que se TU (inserir a culpa de cada um) achas que AQUELE (inserir o texto que mais se adequa ao tu em questão) texto em particular TE é uma indirecta, tens bom remédio... perguntar... sendo assim, e dado que EU tenho por hábito falar com as pessoas e não mandar mensagens subliminares e recadinhos através de pedaços de textos que nem sei se determinada pessoa vai ler ou não, podes TU tirar da ideia que as tais linhas TE tenham sido dedicadas...



(Peço desculpa aos restantes pelo incómodo deste post, mas é já a 3ª vez que me dizem que fulano ou fulana acharam que este ou aquele excerto lhes era ou não dedicado... Se tal algum dia acontecer, eu escreverei no início do post "dedicado a..." ou contarei a história que deu início ao texto como fiz no post "story" em que indirectamente dediquei o texto a Kristina Rosenlind) Estamos entendidos?

Obrigado...

frontin'

Jogos


A fogueira ardia, no seu remoinho aéreo que captava a nossa atenção enquanto pisávamos a areia...


(Mãos dadas?Ou existe ainda demasiada distância entre nós para as dar?)


O teu ar de ser altivo e confiante já não me bate como antes... E, sinceramente, do alto dos poucos anos que tenho a mais sei que a chama inicial passou um pouco, mas chegámos até aqui certo? A pouca experiência que tenho a mais que tu, diz-me também que o facto de sermos tão diferentes nos pode afastar nesta sensação de nervoso miudinho de início de nada. Mas pode ser também o catalizador para a criação de algo decente e bom... Muito bom, e pouco monótono e que provavelmente merecia o espaço entre nós para acontecer.


Chegámo-nos mais, ao som da música do bar ao fundo tu começaste a

dançar... E eu sentei-me a observar o teu cabelo encaracolado e espesso a soltar-se no ar e a reflectir o brilho da Lua, e percebi que apesar de tudo tu estás apenas a pôr a pose necessária para veres se eu corro atrás ou não.


Tough luck boo... Eu também já joguei esse mesmo jogo, e não te dou o que queres se não retribuíres... O nome jagga por que tu me conheces acabou por ao longo dos anos se tornar um tributo ao Jigga (no que toca à personalidade i.e.)


(Deveria engolir o orgulho e levantar-me puxar-te a mão e dançar contigo?)


Efectivamente chego-me a ti, vejo o teu rosto iluminar-se num sorriso e digo-te ao ouvido "Vou buscar uma jeca ao bar, queres que te traga algo?" e logo vejo o teu sorriso diminuir de intensidade, dizes "Não, obrigado.". Viro-me e tu não vês o meu sorriso de gozo por te ter trocado os pés... Mas não foste tu que disseste que não gostas de planos?


Afasto-me e vou buscar a minha cerveja, volto e tu estás sentada a falar com alguém, aproximo-me estendo-te a mão...


"I know that I'm carrying on

Never mind if I'm showing off

I was just frontin'

(You know I want you babe)"


Levo-te até à beira mar, tiro o meu blusão e ponho-o nos teus ombros simulando um abraço ao qual te escapas por maldade, mas não reparas que vejo plantado nos teus lábios o mesmo exacto sorriso de gozo que antes fiz...


"I'm ready to beg it on

Unless you're gon' carry that on

'Coz you know I want you

(You should stop frontin' babe)"


Puxo-te para bem junto de mim enquanto vemos as ondas da preia mar rebentarem à nossa frente e a lembrarem-nos que já rebentavam bem antes de cá andarmos, que só temos uma vida, e que mais vale viver do que perder tempo com este joguinho de engate.

Conhecermo-nos melhor? Óbvio, só nos faz bem... Vivermo-nos um pouco mais?Também... Mas sermo-nos? Como te disse pequena, é tudo um estado de espírito e miúda... como diz o ti Jay:


"I'm too old to be frontin when I'm feeling Denzel

And you acting like you ain't appealing but you are

Stuting like you ain't my only girl but you are (I was just frontin')

I'm ready to stop when you are"


Pergunto-te: "estás pronta?" Aproximo a minha cabeça da tua e paro a dois centímetros dos teus lábios...


The ball's on your side babe...



___________________________


A ouvir:

"Frontin'"

The Neptunes (feat. Jay Z)

álbum: The Neptunes present... clones

vídeo