terça-feira, 25 de agosto de 2009

Zakopane pt.1

Início da transcrição do que no meu bloco de notas se foi criando por terras polacas, tentarei publicar uma nova parte todos os dias, ou de dois em dois dias no máximo, espero que gostem... como é hábito tentarei associar uma música a cada parte da história publicada também, embora provavelmente nem sempre me será possível lembrar da música exacta que estava a ouvir quando escrevi o excerto em causa, dado que desta vez fui deixando o leitor de mp3 rodando... ainda assim, aqui fica:

Zakopane

"Here?" indagou surpreendido no seu inglês seguro, mas fortemente sotaqueado.

"Yeah, exactly here" respondi eu.

"But this is nowhere, the next village is at least 20 Km away." continuou ele.

Thank you, but the landscape is calling me. There's something waiting for me around here, I'm sure of it..."

"You're nuts, there's nothing here except for tre

es and mountains..."

"I ain't nuts, really, I'm sure of this, Simon lives here."

"How do you know?How the hell would you know? You just told me you were never there, you don't even have an address, you don't know the landscape, you don't know the language, you've to be completely stupid to want to go out here man..."

"I just know ok? I just know... Thank you for the ride, thank you for the company, but the landscape's calling me and I've to go."

Abri a porta e saí, o búlgaro saiu irritado, e de um gesto brusco abriu a mala, tirei a mochila, agradeci mais uma vez.

"Are you sure you want to stay here, in the middle of the wild, with no way of contacting anyone else, risking to get lost?"

"Yes man... No problem, really, I'll manage, thank you..."

"Ok bye... good luck you nuts portuguese."

"Bye."


Meteu-se no Corsa vermelho, coberto de pó, derrapou por meio segundo na gravilha e arrancou em direcção ao seu próximo nada apitando duas vezes. Acenei-lhe, sustive a respiração e virei-me para a floresta imensa nas minhas costas. Quando a poeira assentou, tentei redescobrir com o olhar a minha boleia até aqui, mas tinha já virado na estrada e embora ouvi-se o som do carro a ecoar pelo vale já não o via, tapado pelas árvores gigantescas que ladeavam a estrada escondendo verdadeiros mundos para longe do caminho certo da estrada...

Localização desconhecida, tempo incertp, algures entres a flores coloridas nos arbustos do fim de Primavera e os primeiros frutos, ainda verdes e minúsculos a penderem nas árvores, chamando o Verão.

Ao longe e no seu azul distanciado, as montanhas cercavam-me a mim e à paisagem, e, revelavam-me o porquê de não existir por cá nem uma ponta de vento pronto para afastar o calor exagerado que o Sol causava. A estrada cheia de poeira à minha frente iludia-me com inúmeras poças imaginárias e, a sua promes

sa vã de chuva para arrefecer o clima, mas, olhando para o céu nem uma nuvem me brindava... nem uma. A completa inexistência do cinzento como que a negar-me o conforto de me sentir em casa no meio da chuva.

O búlgaro que minutos antes me dera boleia achara-me maluco. "O raio do português, no meio do grande nada verde polaco, à procura de um amigo que nã

o vê há anos, sem saber a morada, sem conhecer a língua, sabendo que é algures nas montanhas de Zakopane e que tem um rio por perto? Caralho para o hippie ou o caraças..."

Eu lia-lhe as palavras nos olhos e a única coisa que me apetecia era berrar-lhe "HIPPIE O TANAS PÁ. HIPPIE O TANAS! BEATNICK E DOS BONS PORRA." Mas o homem estava já a ser simpático que chegasse em fazer um desvio de mais de 30 Km em troca duma Zwyec, e, como beatnick que me sabia (sei?), gostava destes bancos cinzentos e estofados onde o meu rabo descansava tal e qual rei do meu corpo, fazendo algo que o cérebro, dividido entre bebedeiras absurdamente agressivas, dormidas de duas horas, diálogos sobre o futuro da Europa e do Mundo e dos diferentes eus que era a cada noite (estudante, viajante, trabalhador, artista, boémio, o que quer que entretesse os meus companheiros de cerveja e vodka) não poderia nem que quisesse fazer.

Ouvia água não muito longe, cantando-me tal qual sereia aos ouvidos, e decidi então correr ao seu encontro...





(continua amanhããããã)



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A ouvir:


" Hear My Train A Comin' "


Jimy Hendrix


àlbum: Radio One


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