segunda-feira, 20 de julho de 2009

Silêncio

E porque no início tudo isto era poético, acho que faz todo o sentido postar um dos meus primeiros poemas a sério...

Silêncio

Usas demasiado as palavras
E elas perdem o seu sentido
Num sentido irreversivel


Quero expressar
Talvez não uma imagem
Porventura uma ideia
Um som... sim... um som.


Não são os sons
Bem mais poéticos?
Mais verdadeiros?
Mais genuinos?
À falta de paciência
No excesso de desilusão
Calo-me, nao ouço e remeto-me ao silêncio.


Porque as palavras são demasiado usadas
Estao gastas de tanto uso
Ja não se ouvem quando as dizes
Ja não são palavras...


São para ti desculpa...


São para mim dor...


Antes fossem silêncio.


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A ouvir:

Accordion

Madvillain

Álbum: Madvillainy

vídeo: link

Ela e Ele

Este é o início de uma história maior, projecto que vem sido desenvolvido desde Fevereiro deste ano, e entretanto por vicissitudes do processo criativo ficou em águas de bacalhau... Ponho aqui as primeiras linhas como aperitivo, e como forma de me obrigar a trabalhar quiçá um pouco mais nisto. Espero que gostem.



Ela


O seu sorriso é paz desde o início, desde que os seus lábios começam a crescer, e, o seu rosto escuro e bondoso, com um calor imenso e gigante aquece todos os que a rodeiam.

Vê-la a passar é estranhamente reconfortante, como se à sua passagem fantasmas e demónios corressem para se esconder, sob pena de perderem o seu negro para a cor que explode dela. Até a sua expressividade tem a inocência de uma criança, embora os seus olhos revelem alguma saudade disso mesmo.

Pumbabatutum, é desajeitada e feliz até quando não o é, é o espelho dos dias quentes de Verão, e as musiquinhas psicadélicas de MGMT, e cor de terra, e cães, grandes ou pequenos correndo e latindo numa praia fugindo das ondas que lhes molham as patas e voltando à areia molhada para a cheirarem, é um musical cómico que nos põe um sorriso gigante e nos faz sentir bem.

É também no entanto um pedaço de Jackson Pollock que não conseguimos bem perceber, definitivamente bela, mas duma beleza tão complexa que nos espanta, quiçá assusta.

Menina de vermelho... Quente e fantástica como poucos.

A Menina de vermelho cheira a África...


Ele


Isolado na sua cela bem lá no cimo da torre, ele é-se só. Tem liberdade para sair e entrar quando quiser, mas raramente sai com medo do que o espera por fora. Perdido no seu vazio ele não se achava preenchido nem realizado mas preferia-se

assim para já.

Filho da cidade, prático, algo cínico, com cheiro a cigarro e olhos cinzentos esverdeados que lhe definiam o espírito da forma mais exacta existente, alguém que apesar de quadrado gostaria de ter a coragem de fugir para esse mundinho de cor que alguns à sua volta evidenciavam...

Sabia-se desajeitado pelo que pouco falava. Sentia-se confortável naquelas noites de nevoeiro intenso, ou nas manhãs frias e limpas de Fevereiro. Acima de tudo sente-se confortável sozinho a pensar que preferia estar com alguém. Tudo o que envolva mais do que si próprio tira-o da sua zona de conforto.

É os c’s mudos das palavras a serem pronunciados, e a confusão e o caos do saxofone de Coltrane na fase final da sua vida, com cor por dentro mas com a morte a medi-lo de alto a baixo, durante toda uma vida...

Procura-se nos outros, quando os outros são o que mais evita...

O menino cinzento transpira Europa.



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A ouvir:

"Trans Fatty Acid"

Kruder and Dorfmeister

Álbum: The K&D Sessions