quarta-feira, 8 de julho de 2009

Somersault pt.2

Como prometido aqui fica:





O Sol batia-lhe na cara, as plantas dos pés queimavam-se na areia... Vida de Verão...

Deixava-se perder nas ondas daquela praia vazia, mar verde azulado, paz.

Ao longe viu-lhe a silhueta, e na antecipação da aproximação perdeu-se a imaginar o que ela poderia ser.


"Olá, o meu nome é..."

"Vic" - sorriu de volta

"Importas-te que estenda a toalha aqui junto a ti? Sei que a praia é grande mas..."

"Força, por quem sois..." - brincou ele.


Ela sorriu de volta e iluminou-lhe ainda mais o dia... Não querendo chateá-la e afugentá-la voltou-se para o seu livro com uma sensação boa a percorrer-lhe o peito. Ela tirou as roupas calmamente, dobrando cada peça meticulosamente e pondo-as dentro do saco laranja que trazia ao ombro, ele observou-a pelo canto do olho e procurou uma desculpa para fechar a mochila e não mostrar os rodilhos que lá tinha desordenados e desarrumados.

Deitou-se ao lado dele e tirou o leitor de mp3, ele ouvia como que ao longe o acordeão e ficou contente... pensou em mazurka pensou em Yann Tiersen, pensou em como tudo soava melhor numa tarde de Verão...


Por cima deles uma brisa levantou-se e fez abanar os pinheiros que estavam a poucos metros da areia, e o silêncio bom era só interrompido por aquele leve ruído do silvo das agulhas no pinhal.


"Há coisas que ficam tão melhor quando não são ditas" pensou.


Rodou numa meia cambalhota e pôs-se em pé.


"Vou à água" - justificou-se.

"Ok ginasta, até já" respondeu-lhe ela num risinho feliz.


Pôs um pé na água transparente e fria, e fez um esgar treteiro de incómodo... Avançou uns passos e mergulhou na primeira onda que veio.

Desde miúdo que considerava o mergulhar no mar como um ritual. Purificava-se ali, deixava o mundo para trás naquele cantinho do cérebro no qual não tinha de se incomodar com as coisas, na categoria das coisas "pouco importantes".

Neste momento pensava apenas como encetar uma conversa com ela, imaginava diálogos com ela de forma a estudar a melhor forma de simular um perfeitamente casual, mas suficientemente estudado para que não se sentisse perdido, nem sem saber o que dizer.


Ela sentara-se na toalha e olhava para ele lá longe, e pensava que o fulaninho parecia simpático... sentia a cumplicidade que ali se estava a criar e achava irónico que sem sequer o conhecer tivesse tido aquele feeling de juntar a sua toalha à dele... do nada... Achara piada à cambalhota para trás, como se ele a estivesse a tentar impressionar, decidiu tentar algo diferente...

Aproveitou a duna e deu um mortal encarpado...

Ele deitou-lhe um ar de espanto:


"E o ginasta sou eu?"

"Também és... mas não és o único" retorquiu feliz "Apeteceu-me ser criança"

"Hmm hmm" e fez um handspring na direcção dela.


A tarde passou-se entre risos e demonstrações acrobáticas na areia...

...

...

...


Ela aproximou-se dele e perguntou-lhe:

"Importas-te que estenda a toalha aqui? A praia está vazia mas sempre é mais seguro"

"Hein?Claro...por quem sois..." brincou ele acordando do sonho.

"Obrigado" disse ela e sentou-se sem um sorriso...


Há coisas que são melhores quando são sonhadas...