quinta-feira, 5 de novembro de 2009

revenge

A noite surpreendera-me, o vento frio também... A minha pele enrigecia-se e a t-shirt que trazia vestida pouco fazia para me aquecer, mas não queria ir para casa. Não... A tua imagem não me saía da cabeça, os teus olhos azuis, as tuas repas castanhas claras, o teu sorriso, invadiam-me e faziam-me sentir zangado com o mundo. Metade das músicas que tinha no mp3 lembravam-me de nós, a outra metade lembrava-me o quanto me esforçava para te esquecer... Odeio-te por razão nenhuma. Odeio-te por vingança, pelo indiferente que me sinto na tua vida, por saber que enquanto perco tempo a pensar em ti, sou provavelmente o último pensamento que te passa pela cabeça. Levanto a mão direita para proteger a chama do isqueiro, e rio-me da ironia... Logo tu que não gostavas nada que eu fumasse, logo tu que te ipirangaste à minha frente de cigarro nos dedos e sorriso sarcástico como se o que nós fôramos fosse mesmo nada.

Lá longe no outro extremo da Europa, fosse esse extremo Istanbul ou Viena, tu continuas a tua vida, e, eu nada sei de ti... Não que sinta necessidade de saber, não que sequer sinta curiosidade, mas irrita-me saber que te foi tão fácil descartar-me.

Caralho pó Johny Hartman, e para o Chet Baker, e para todos os outros que me cantaram histórias de amores perdidos ou impossíveis. E como tu gostavas de os ouvir... Estragaste-me o slow jazz, estragaste-me as nonas e as sétimas, e eu que evito cantar por saber que tu gostavas de me ouvir.

A chuva rebentara já há uns minutos, forte, intensa, como tu cá dentro, destapando o meu ouvido esquerdo. Uma pinga caiu-me mesmo em cheio no cigarro... raios... era o último.

Não havia vivalma nas ruas, quem raios seria suficientemente louco para caminhar por elas debaixo desta intempérie sem algo para esquecer?

Soil and Pimp e Mo' Better Blues, e as saudades de pertencer a algo. É disso que sinto falta, não de ti, não da tua cabeça dura e das nossas milhentas discussões àcerca de absolutamente nada. Sinto falta de ser capaz de sonhar, de ter objectivos (que na altura eram nossos, mas que neste momento podiam pelo menos ser só meus...). Sinto falta de recusar os seus sorrisos vampirescos de quem me quer só pela impossibilidade de me ter. Sinto falta de lutar por algo.

E odeio-te por me teres roubado isso.

E odeio-te por teres tornado todas as histórias depois de ti, não mais que menosprezíveis ao lado da tua.

E odeio-me por tanto tempo depois (anos até) ainda sequer me lembrar como é que se escreve o teu nome, canim. Canim o caraças... como diria o Stray isto destruiu-me a vida... mas até lhe achei piada...

Vá-se o amor, fique a ironia... Hein Di?



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Jelena

Dedicated to Jelena (it's your birthday gift girl... hope you like it...)


She walked in at the first chords...

My eyes just went bezerk looking for her, and so were all the eyes of all the guys on this bloody room. I couldn't care less. I knew I had the skills, I knew I was different, I knew I had something else, or I thought I had something else... damn...

Just by watching her black long hair falling through her white back, distinguishing her from the blonde status quo of this Vienese club, I was feeling myself falling.

She smiled in my direction, her blue eyes fixed my green ones and that was it... Her enchantment was already working, as if she was this gipsy trained in the black arts of sexual attraction. "Damn jagga, damn man... you're lost" I knew I was hers for her to rip me appart at her will.

The guitar echoed in my mind like a strange distant dream. Reverb and overdrive, overdrive and reverb, I couldn't even think clearly, like if I had too many grass flowing on my mind (it wasn't the case).

She hadn't even said a word, and already I knew my world would never be the same after this night... "How? I thought, how the hell did she weakened you this easily? It's not like she even tried to...Damn man, you gotta put it together, come on, act normal, act normal, ACT NORMAL fuck fuck fuck fuck...".

"Hi jagga." she whispered in my ear teasing me.

"Hey J. wassup with ya?"

"You... I guess..." and took like two seconds to restart as if testing my reaction "You are happening now."

" You know I ain't up for your normal games."

"I know, I know, that's what makes you so playfull, I've to invent new games just for you."

"No, you misunderstood, I ain't up for games, no games, any."

"Oh.... We want to keep it simple do we?" She mocked me

"I'm tired of y'all... you complicate too much"

"And still you came tonight, knowing I'd make a toy out of you"

"Maybe I was just expecting you to be different from that."

"L-O-L... Come on jagga, who do you think you're convincing? We are both too adult to be joking around this... You're a smart guy, you know me, or if you don't know me at least you know my type, you couldn't be expecting me to be that different"

"Well... point taken...Still I'm not up for games... You're as excited about this as me, and if you think I'm just gonna behave like a dog without owner, you're kind of mistaken..."

"You men... Always thinking you are different, and yet, you always surprise us on how equal you are...Male conscience is really unique... unique and shared by all the million males on the Earth, taking you out of your comfort zone is like cutting your balls."

"Damn I told you I wasn't into this J.... I'm leaving."

"You'll come back... I know it" she laughed...


Two hours later, I'm still looking at my cell phone hoping she'd at least text me to meet her or something...

"Damn she really got you..." I laugh, and walk home, still hoping she'd call.

Truth is, in two days I'll get tired of waiting and I'll break the silence... she put me out of my comfort zone indeed...

Damn her gipsy spell... damn her blue eyes and straight long hair, and damn her petite perfect body which I just wanted to hugh as tight as possible altough she's "too cool" to let me do it just like that. Damn those beautifull narrow lips begging for mine. Damn the weakness she was devoting me to. Damn her games which I didn't want to, but had to play. Damn the curiosity. Damn her punkness which was driving me mad... Damn her, and damn me for knewing I was about to break...


She'd me figured out, and that added to the challenge. I just couldn't back out now.

"I'll get you J. I will, you just wait and watch..."



_______________




A ouvir:


Steppenwolf


"Pusher"


álbum: Steppenwolf


link

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

pós beatnick

Só mais um golo
só mais um,
só mais um para que finalmente
o fundo da garrafa me bata nos olhos.

Entre o ébrio e o divino
Ou ébrio e divino ao mesmo tempo.

Cada garrafa aberta
é só mais um passo
em direcção ao eu sozinho
que sou.

Divino sem dúvida
Divino e sem necessitar de mais nada.

If I feel good it makes it right Skin...
Enganaste-te nisso também...


domingo, 11 de outubro de 2009

rejeição

"Outra vez com essa cara moço?" perguntou...

"Parece que não me conheces outra, né?"

"Então que é que se passou desta vez?"

"Lembras-te da miúda dos caracóis?"

E exorcizou-a em palavras, como se o facto de a descrever o obrigasse a admitir o absurdo que era pensar em alguém de forma tão grande, tão pura, tão amável...

E contou tudo, desde o sorriso que ela lhe dera, como o sorriso que ele não lhe conseguira dar, o caminho do nervoso miudinho à paixoneta ao incómodo e ao inevitável nada. Mais uma que se interessara fazendo-o imaginar que as coisas poderiam melhorar e ficar boas, mais uma que perdera o interesse e se afastara mesmo que ele não a quisesse prender, ampla história da sua vida. Ampla história da vida de todos os que estão pré-destinados a nunca serem mais do que tentativa.

"E o mais surpreendente é que eu nem a queria assim tanto" acabou por confessar "mas a ideia de voltar a ter alguém sorriu-me tanto..."

"Deixa... outras aparecerão rapaz...aparecem sempre..."

"Pois, mas era mesmo dela que eu gostava... a rejeição tem sempre este efeito, amplifica sempre o nada que sentíamos ao ponto de parecer alguma coisa..."

"True son, so true..."

E a Lua de amarela passara a branca lá em cima e o mar acalmara o suficiente para um mergulho às 3 da manhã...



_______________________

A ouvir:


João Gilberto


"Insensatez"


link


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Condição

Condição



hipoteco-me nas palavras que não dizes,

génios perdidos com desejos meus,

Noutros, a outros,

Sorte a deles, nunca minha.


Caminho sobre passeios imaginários,

Molha-me a chuva da certeza,

nada, mesmo nada

disto é, nem foi, ou será.


É a vida quem arrasta a tristeza,

não eu...


_____________

A ouvir:

Carlos Paredes

"Verdes Anos"

link

sábado, 26 de setembro de 2009

Dia 2

Menos violento hoje... mais psicadélico hoje... temporalmente entre o beatnick e o punk, comportativamente (se é que tal coisa existe) aussi...
Continua a apetecer-me dar uma carga de porrada ao mundo e não tenho bem noção do porquê...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Mood update

Não escrevi nada para aqui esta semana, deixei zakopane no prego e estou sem paciência... SEM PACIÊNCIA... ZERO NICLES NAAAAAAAAAAAADA...

Para entenderem mais ou menos em que estado de espírito estou:


É mais ou menos isto...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Viena, Janeiro próximo (?)

O convite ainda que pouco perceptível foi feito, digo eu... escrevo eu... enfim... mais uma interrupção para reescrever a saga de Zakopane (algumas incoerências no texto, fruto de bebida excessiva aliada à escrita, ando a reaproveitar ideias, depois largo-as por cá). No entretanto deixo-vos com este pedacito de um texto meu que mistura o meu passado com o meu sonho futuro... Espero que gostem ;)



Acordei com o chão do quarto repleto de cervejas, e senti-me encharcado, olhei para a janela aberta e sorri à neve que cobria os telhados e terraços do quarteirão inteiro, fechei-a e fui tomar banho.

Enquanto a água do chuveiro me caía em cima e aquecia tentava recuperar da ressaca horrível que ia sentindo, lembrei-me que tinha combinado contigo, abri a cortina e olhei para o telemóvel, estava já em cima da hora, escrevi à pressa uma mensagem a dizer-te que ia chegar atrasado e tratei de me despachar.

De volta ao quarto saquei da minha t-shirt castanha, e cheirei-a para ver se estava suficientemente limpa para a vestir, o teu perfume circulava nas suas fibras e nem pensei duas vezes. Vesti as calças enormes que já mal me serviam dada a quantidade de peso que perdia dia após dia (efeito da muita bebida e pouca comida certamente, mas para quê preocupar-me com isso?) e o casaco "contestatário" castanho escuro.

Saí do apartamento, chave no bolso direito, móvel no bolso esquerdo, leitor de mp3 ligado para uma qualquer música preenchida de bombos de bateria e de uma voz gigante.

Desci as escadas à pressa, algures entre dois andares um rosto amigo sorriu-me, disse "Olá, talk to ya later bro." e continuei a correr, abri a porta escorreguei pela neve fora até ao tram e senti as primeiras gotas a cair, subi as escadas e sentei-me e estranhamente estava já encharcado outra vez, sentia a água a escorrer-me pelo pescoço até às costas e olhei em redor. Uma multidão de rostos encharcados seguiam a sua viagem, sem sorrisos, sem palavras, perdidos nos seus próprios mundos interiores, tal e qual como eu, Wahringer Strasse nunca me parecera tão longa, pensei se me compensava apanhar o metro e decidi sair em Alserstrasse correndo até Floriangasse, tinha de passar pelo Tunnel ainda, para pedir à Juliane que entregasse o trompete ao Henri.

Subi os degraus e sacudi o cabelo, e entrei. O cheirinho a café quente e as cores quentes cumprimentaram-me com um sabor a casa.

"Grussgot Juliane!"

"Grussgot"

"Wie gehts?" tentei

"Gut gut, Are you ok? You're all wet... Is it rainning that much?" e eis o recurso ao inglês fazendo-me desistir de me armar em entendido desse alemão tão particular que é o vienense...

"Guess so, anyways, Henri is coming today at midday his trumpet is in the instrument room downstairs, can you give him my key so he can open it?"

"Sure jagga, don't worry... by the way how was the jam yesterday?"

"Good, quite good I'd say, heard anything about it?"

"Nope, well Mathias liked it, but you know him, he always likes your shows."

"Yeah, he's got quite a biased opinion" ri-me

"Yep, that's true, well gotta serve the costumers, Are you going anywhere now? Do you want to eat something? Looks like you could use a breakfast."

"I'll come later, don't worry, I'm going to meet a friend now"

"Ok, see ya then!"

"See you dear."

Voltei ao frio da rua e decidi fazer o resto do caminho a pé, estava atrasado e estava, e o desvio para o tram ainda era longo pelo que me podia fazer ganhar tempo, como poderia fazer perder tempo, o risco não me parecia compensar. À medida que me deslocava para o Ring a sensação de molha voltava, olhei para cima e vi-a:

Surpreendentemente baixa, talvez a uns 5 palmos da minha cabeça, uma nuvem minúscula e negra descarregava água em mim com toda a fúria possível. Olhei em volta para os edifícios que me rodeavam, pensei nas memórias todas que me traziam, ela e os seus olhos azuis que ainda impregnavam esta cidade tantos anos depois... O seu sorriso lindo, aberto, o seu cabelo pintado, aquele nariz empinado, o facto de que ela vivera aqui durante tanto tempo, e aos anos que já nem ouvia falar dela. Senti-me como me tinha sentido naquele mês de Setembro, sozinho, escuro, triste. Pensei no que poderíamos ter sido, e em má hora o fiz... Comecei a pensar no que poderia ter sido com tantas outras, e no que nunca tinha conseguido ser, e no quão inseguro era hoje por isso, perdido na Viena cinzenta que só faz sentido para quem já lá foi triste.

Pensei no quão inconcebível seria para ti provavelmente, tudo isto, no fundo, nunca viras Viena senão com um sorriso, e gostava de ti por isso, pelas memórias que não partilhavas comigo, pelo facto de sabendo tanto de mim não fugires. Está certo que não corrias para mim, era mais que notório, mas no entanto não me afastavas, mesmo sem nunca me teres prometido nada... E lembrei-me da Elis Regina e de Ossanha traidor e sorri à ironia com jeitinho malicioso.

A chuva continuava, e eu continuava circulando de pensamento em pensamento, sempre pensara que a única forma de escrever algo de jeito seria numa cidade assim, opressiva na sua imponência, desafiante na sua beleza, cinzenta e escura na sua alegria até. Desviei ao Miles Smiles onde cumprimentei o velhote de cabelo ondulado e grisalho.

"Hey there kiddo.."

"Good morning."

"What do you want today?"

"A beer, but just give me a can, I gotta run"

"Crazy latino" gozou-me

"Cranky austrian" retorqui

"True, true, always complaining me good ol' me, 'tough you are living the good life man" Num sotaque mais escocês que vienense, que sempre me fazia rir.

"Really think so? Haven't been seeing it much that way..."

"Girl problems?"

"Bah, that comes with being a man, naaah... more like life problems... kinda feel lost..."

"You always will The meaning of life is for the Gods to know and for the humans to break their heads trying to figure it out. Well now, I just noticed your little companion." e apontou para cima da minha cabeça

"Yep... 's been following me since I left home, don't really know why..."

"Feeling blue?"

"Nah just feeling the blues... not happy blues, not sad blues, just the blues"

"There ain't no such thing as apathic blues kiddo."

"Guess not... Anyways where's that freaking beer?"

"Here you go, no runnin' man, no runnin' coz I'm a cranky old guy, man."

"So was Coltranne and he was only 37 * "

"You learn fast I see" sorriu

"Well euro and half right?"

"It's on the house, just get rid of that cloud man.See you later?"

"Bah band practice, so probably around midnight."

"Ok, bring the drummer, I like joking with the guy."

"Yep, Simon's a good guy indeed. Auf Wiedersehen"

"Adiós"

"Adeus, not Adiós. portuguese not spanish."

"Spanish, portuguese, what's the difference? All latinos, and all preferred by austrian girls..."

"Who cares about austrian girls?" ri-me e saí enquanto as suas gargalhadas ecoavam porta fora.

Abri a lata enquanto andava, e despachei-me a bebê-la... dois goles, três goles, e quatro e cinco. Dois passos, virei-a sobre mim e bebi o resto dum trago, amassei a lata e atirei-a para o caixote à minha frente, saquei um cigarro do bolso e escondi-o dentro do casaco para não se encharcar, acendi-o e protegi-o debaixo da mão quase fechada... Enquanto passava pelas montras da Josefstadter observava a nuvem por cima de mim a ganhar força... Reparava também em como todos os que passavam por mim iam também eles encharcados. passei pela Rathaus e desci até ao Volksgarten, o jardim coberto de neve estava fantástico. Peguei no móvel e liguei-te disseste-me que estavas a chegar, olhei para a paragem de tram e vi-te lá ao longe, casaco de malha cinzento top amarelo, sorriso gigante, e uma alegria gigantesca emanava de ti. Acenei-te levantando uma cobra de água que correu do meu braço para o céu e caiu escassos centímetros no chão à minha frente marcando a neve. Fiquei parado à espera que te aproximasses e à medida que te aproximas reparo que a luz em ti é diferente, por alguma razão estás mais colorida que tudo o resto à tua volta, e então reparo que ao passares a neve derrete-se, as nuvens desaparecem, as pessoas começam a falar umas com as outras, sorriem, riem, as árvores reganham as folhas em questão de segundos.

Chegas-te a mim, dou-te um beijo demorado na cara, molhando-te, mas tu pareces não te importar minimamente... Agarras a minha mão direita, com a esquerda limpo a face das gotas que ainda escorrem, a minha nuvem passa diante dos meus olhos de cinzenta a branca, de branca a Sol, e o meu Sol junta-se ao teu num único gigante que começa a subir em direcção ao céu afastando neve, nuvens, humidade, frio, cinzento, tudo...

"Vamos ao MQ." dizes-me enquanto te encostas a mim para que eu te abrace com o meu braço direito.

E o Verão imita-nos e abraça Viena a meio de Janeiro.

___________________

A ouvir:

Florence and the Machine

"Howl"

álbum: Lungs

link


*Aos 37 John Coltranne publicou "A Love Supreme" uma das obras mais influentes do seu quarteto clássico, era a minha private joke com o dono do Miles, (do qual percebi agora, nunca soube o nome) costumava gozar e dizer que ele se tinha atrasado 10 anos em relação à pop, e ele dizia "nah... jazz just keeps you from aging as fast on the outside, you just age inside... like good'ol wine"

domingo, 13 de setembro de 2009

Desinspirado...

Não tenho tido pachorra para escrever nada de jeito, e por nenhuma razão em particular... acho que por cá o Verão morreu antes de acabar... Obrigado a todos os que me têm visto ser novo sendo velho :)

E sim o "poema" abaixo é uma treta... mas... para não dizerem que é por preguiça... tenho tentado mas... enfim:




Perdido em passos que já dei..


Sorrindo como já sorri

Não feliz, apenas habituado...


Tanta coisa em meu redor,

Novo, tudo novo, e bom

Mas...


Ah a brisa do mar traz-te...


E tu do novo és o mais velho,

E bom, mas...

Não ao meu redor.


Sorrio como já sorri,

é do hábito.


Perdido em palavras que temo

mesmo não as tendo ouvido..


Ainda, parece-me...








Sorri pequena... sorri, que se for sincero é bom.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

E porque a saga de Zakopane ainda não está perto do fim, deixo-vos com uma brincadeira de hoje:



"Bom dia" sorriram os seus olhos quando os meus se abriram.

"Oi pequena" a minha voz ensonada abria os panos daquele início de manhã, o Sol a bater no chão de madeira lá ao fundo deixando atrás de si um rasto de um branco amarelado intenso, luz, luz, luz, luz, luz... Imensa luz brilhante e nova que reflectia em todo o quarto até bater nos seus caracóis grandes fazendo-os quase louros.

Pisquei os olhos, espreguicei-me num bocejo para não a incomodar, e estiquei o meu corpo numa posição de prancha para não desprover os nossos corpos nus dos lençóis que os cobriam.

"Estás acordada há muito?"

"Não..."

"Estás a ver-me há muito?"

"Há algum tempo, sim."

"Observar-me então custa-te mais que estar acordada?" gracejei.

"É novo para mim, envolve esforço, envolve respeitar cada respiração tua, envolve não te ter a falar comigo, ter-te silencioso é quase uma nova experiência sabes?"

"Estás a queixar-te?"

"Não, nem me passaria pela cabeça tal... estou apenas a dizê-lo para que compreendas que tudo isto é novo para mim. Bom, sim, sem dúvida, mas novo ainda assim. Não sou tão experiente nestas coisas como tu..."

"E recomeças?Já te disse que isso são balelas, não sou experiente, não contigo, nunca contigo."

Os seus olhos reduziram-se a frestas felinas, o seu sorriso abriu-se numa boca já larga de lábios extremamente finos, delicados, bonitos. Apanhara-me na sua própria brincadeira, num jogo de que eu era mestre... "Psicologia invertida... que treta." ri-me.

Passei a minha mão por cima dos ombros dela como num abraço, e virei-me sobre ela, prendendo-a entre os meus joelhos libertei os meus braços e fiz-lhe cócegas na cinta, fazendo-a contorcer-se sob mim, mais e mais e mais, até culminarmos num beijo. Apaixonado, grande de tão pequeno, o mais próximo do eterno que alguma vez estive...

Levantei-me. "Onde vais?" "Volto já pequena." "Hmmmmmm" soltou ela num gemido lânguido e preguiçoso e querido que englobava toda aquela manhã numa única onomatopeia, com o braço puxou os lençóis para cima de si e deitou-me um "estás a olhar para onde parvo? Vê lá, vê.." que me deixou aparvalhado sem saber o que dizer. Ri-me, nessa tentativa de escapatória de quem não sabe mais o que dizer, e abri a porta de madeira escura na minha frente entrando na casa de banho.

A luz reflectia nos azulejos claros pela janela minúscula por cima da sanita, espreitei para os campos lá fora, onde o trigo ia já alto avisando que o Verão estava já quase a acabar.

Lavei a cara, passei as mãos pelo cabelo, ajeitei as boxers mal vestidas, lavei os dentes, e voltei para junto de ti: "Vamos dar uma volta? Aproveitar o Alentejo?". Ficaste calada... Abanei-te um pouco, gemeste outra vez e disseste-me "Volta para a cama, temos mais que tempo."

E eu acreditei em ti, e voltei, sempre quis ter tempo com alguém assim do lado, e nunca o tinha querido tanto como agora, como contigo. Enrolei-me nos lençóis, pousaste a cabeça no meu peito e adormeceste mais um pouco... A paz do teu rosto, entre olhos fechados e o rosto tapado pela tua juba enorme era tudo o que eu precisava, agradeci-te, e perdi-me no sonho contigo...


_______________________


A ouvir:


"Stay where you are"


Ambulance LTD


álbum: Ambulance LTD


link

Zakopane pt.5

Demoráramos no caminho já cerca de um quarto de hora, perdidos numa conversa composta por vocábulos lentos de duas línguas incompatíveis e imensa gesticulação, falámos de polkas e polskas, interesse meu nascido no Andanças, e mostrei-lhe o meu 1-2-3 na tentativa de aprovação por uma local. Sorriu e deu-me um braço e cantou em largos pulmões enquanto rodopiámos duas ou três vezes ao som da melhor tradição do sul da Polónia.
Os "ch's" e os "obra" e "ova" e cj" eram tão constantes que ao fim de algum tempo tudo o que a minha cabeça retinha era uma sessão contínua e quase inexpressiva deses sons. Ao subirmos o caminho rente à montanha Anja apercebeu-se da minha debilidade, embora eu me esforçasse ao máximo para a esconder e obrigou-me a parar para descansar, fingindo-se, ela própria, cansada tentando assim não me ferir o orgulho.
Disse-me "Halt" e ergueu o punho no gesto militar de paragem, e eu, na brincadeira, marchei até ela arrancando-lhe novamente as ruidosas gargalhadas que tanto me animavam.
Cá de cima via metade do caminho que havia feito desde hoje de manhã, elevei o polegar ao olho cobrindo-o e pensei "Tanto tempo para cobrires um polegar de terreno... a trigonometria é tramada, não é ti jagga?
Levantei-me de novo e fiz-lhe sinal para seguirmos, ela fez-me sinal para que me sentasse novamente, que precisava de mais descanso do que aquele. Acenei que não e dei um pulo, ao que ela acedeu ao meu pedido levantando-se e acelerando o passo o suficiente para me deixar para trás, como se me atirasse à cara que o orgulho tem limites.
A falta de oxigénio ali tão perto do Sol quente, o caminho de gravilha onde as minhas sapatilhas escorregavam de três em três passos, a minha falta de condição física e os excessos dos últimos dias, todos se uniam, personificados naquele granito cinzento à minha esquerda, que se erguia em direcção ao céu azul separando-me deste. do sítio onde estava, o topo da montanha parecia pender das poucas nuvens brancas que agora se viam, como se elas suportassem o peso do vale à nossa direita inteiramente, fazendo-os pairar sobre um qualquer mundo subterrâneo longe desta vista paradisíaca e verde polvilhada de flores e borboletas com os pássaros a entoarem permanentemente cantos em honra da beleza deste lugar.
De súbito, após uma curva na montanha, o caminho começou a descer imenso, em direcção ao que me parecia uma parede rochosa, mas como a minha guia permanecia segura, menos não podia fazer que segui-la. No fim da descida encontrei-me frente a frente com um desfiladeiro gigantesco, com paredes gigantes do mesmo granito que o topo da montanha que acompanháramos até agora. Pensei no quão pequenos ambos pareceríamos vistos lá de cima, de mais de 30 metros de altura, ao abandonar o verde colorido e a deixarmo-nos engolir pela boca das montanhas que nos desafiavam. Os nossos passos começaram a ecoar, e a dor nos meus pés aumentou consideravelmente, o cascalho crescia aqui de dimensão o que tornava bem mais difícil o apoio dos pés para alguém desabituado a estas caminhadas longas. Já Anja movia-se com uma agilidade quase felina como se fizesse aquele caminho diariamente, Ao ver a minha falta de jeito para me apoiar voltou atrás, e segredou-me algo que obviamente não entendi, percebi, no entanto pelo tom grave e pelo olhar dela que aquele lugar teria provavelmente uma qualquer mística especial, Levou o indicador aos lábios desgastados, num desnecessário sinal de silêncio e eu assenti educadamente.
40 passos à frente, quando o caminho sinuoso passou a impedir-me de ver a entrada do desfiladeiro, aproximou-se da parede direita, e ajoelhou-se, ao alcançá-la apercebi-me do pequeno altar ali presente e acompanhei-a bezendo-me frente a uma Maria vestida de branco, sinal do Sagrado naquele sítio nitidamente divino de tão paradisíaco. E ali, parado entendi que aquele sítio onde de repente me dirigi em oração àquela Santa (eu que de religioso não tenho nada) percebi, que mais do que procurar a fé, tinha sido encontrado por ela, não a Fé numa crença divina, mas a fé em mim mesmo, a fé de que qualquer que fosse o caminho que seguia, me encontraria a mim, ao encontrar verdadeiramente os outros.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Zakopane pt.4

Retomei a caminhada tentando motivar-me perdido em canções dos Kinks e ensava no quão fantásticos haviam sido os meus tempos com o Simon nas 3 semanas que ele passara comigo em Viena.
"Janado do caraças.", ria-me eu, recordando aqueles olhos minúsculos e o cabelo sempre colado à cabeça, a voz monótona sem nunca se exaltar nem sequer soltar uma gargalhada, rindo-se sempre baixinho e dizendo "E apesar de tudo invejo-vos latinos por conseguirem ganhar as pessoas tão facilmente.". Pessoalmente nunca percebera quem tinha ganho quem, se o Simon a mim, se eu a ele. Sei apenas que quando o conheci me sentira intimidado pela impessoalidade germânica dele, enquanto ele não gostava nada dos meus modos mais calorosos e abertos. Mas, de repente, sem nada o fazer prever, à bendita e clara luz dumas
Wieselburgers e dum dj set do senhor Peter Kruder entendemo-nos perfeitamente e ganháramos uma cumplicidade inacreditável.
Agora, no meio das florestas do Sul da Polónia, e longe do conforto industrial e negro do Flex, o realismo começava a entrar-me pelos poros abertos com o suor e a invadir-me o espírito, "O búlgaro tinha razão pá. O caraças do búlgaro tinha razão, estás aqui no meio do nada, sozinho à procura de algo quase impossível de encontrar", e, logo a seguir como que expelindo-o o cinzentismo: "Quase impossível!! QUASE! QUASE! QUASE! QUASE!" chegando ao ponto em que o pensamento passara da voz alta e daí a berro, acompanhado de um punho erguido estúpido isolado mas demonstrador do quão desesperado estava e do quanto precisava de me convencer de que não estava a andar para nada, por mais perdido que estivesse.
E eis que nesse momento em que estava sobre a corda bamba, num vai não vai de esperança, um milagre aconteceu, de repente um grito em polaco chegou-me aos ouvidos, corri para fora do arvoredo, feito tolo em direcção ao vale florido, onde seria mais fácil ver e ser visto. Com a pressa tropecei numa raíz, voando dois metros e espalhando-me ao comprido na relva, levantando em meu redor uma nuvem gigantesca de pólen que subiu no ar, cumprimentando-me como Deus criador das futuras flores deste vale, e pensei no quão aleatória era a criação. Como se o Acaso esperasse por mim para iniciar o processo de fecundação neste vale, levando agora o amarelo início de vida na brisa.
As gargalhadas gigantescas estalaram ruidosas mas doces e profundamente humanas, desviando-me a atenção da minha reflexão quiçá parva. Olhei-a enquanto me aproximava, devia ter uns 50/60 anos, envolta na sua saia verde escura e a camisola negra. grande, larga, cabelo contrastando entre o negro e o grisalho, olhos daquele azul inexpressivo de tão claro. Ao ver-me aproximar o riso diminuiu, mas o sorriso manteve-se, demonstrando serenidade, calma, e simpatia perante o meu aspecto deslavado e da minha cara agora amarela do pólen.
"Do you speak english?" sonhei eu...

"Niet" disse num sorriso enorme de quem me entendera como turista perdido, (e de resto o que era eu?).
"Français?Deutsch?Español?Português?"
"Niet, niet" e o sorriso cresceu, "Russky?"
"Niet" disse eu agora quase rindo.
Levantou oito dedos e disse algumas palavras perdidas novamente no meio das suas gargalhadas sonoras e boas, como quem diz: "8 línguas diferentes, 8 meu Deus, 8 línguas e não há forma de nos entendermos."
Acenei com a cabeça e encolhi os ombros. Ficámos parados a olhar um para o outro por uns segundos, até que me lembrei que tinha papel na mochila, saquei da caneta (nova gargalhada quando viu as garrafas, ao que lhe ofereci e me recusou com um sorriso sincero).
Escrevi "João" e apontei para mim, feito parvo arranhei o pouco alemão que sabia, como se este lhe fosse mais próximo... "Ich bin João."
"Ju-a-u?"
"Jo-ão, João" disse lentamente.
"Ju-a-um?" perguntou.
"Ja ja, und dir?" perguntei apontando para ela.
"Anja."
"Anja..." repeti, unindo as palmas e curvando-me numa vénia quase teatral.
Perguntou-me algo que não compreendi, mas que deduzi que fosse a minha origem:
"Portugal" disse com sotaque inglês, a sua cara foi de estranheza, "Por-tu-gal" repeti lembrando-me a diferença do "tch" e do "t".
"Ahh Portugal..." parou a pensar uns segundos "Simon? Simon freunde?"
"Ja Ja JA JA SIMON FREUNDE JA... UIIIIIIIIIIII" Saltei eu de alegria, "Simon sehr gut freunde uh ja, genau genau, um amigalhaço sim senhora" explodi eu abraçando-a, ao que ela respondia com mais gargalhadas, achando-me maluco. Recuei, vi-a sorrir-me e fazer-me sinal para que a seguisse, pedido a que atendi prontamente, correndo em torno dela e gritando "Obrigado An
ja, Obrigado é merci" e ria-me feito tolo, fazendo-a rir-se da minha tolice, percebendo a inocência nela contida...

______________________

A ouvir:

"Alive"

Sa Ding Ding

álbum: Alive

link

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Zakopane pt.3

No jogo do toca e foge entre o Sol e a àrvore que me servira de encosto durante a noite, a luz acabara por vencer o caminho até à minha cara, acordando-me para o mato que me rodeava.

Olhei para a clareira à minha frente procurando amoras ou mirtilos nos arbustos, e fui surpreendido por uma trepadeira que abraçava um carvalho, carregada de frutos vermelhos que pareciam maçãs em miniaturas. Observei as que estavam mais altas e que estavam debicadas pelos pássaros, decidindo-me a comê-las.

Tinham um sabor amargo, mas a consistência era semelhante a uma pera, embora menos sumarenta.

Recolhi algumas para um saco de papel, abri a pasta e troquei-as pelo telemóvel que me apontou as 11 horas seguidas que dormira.

"E cansado estava" disse em voz alta "Vamos é beber uma jeca para aliviar a dor de cabeça matinal." ganhara este hábito de falar sozinho em voz alta para ter a certeza dos sons do m

eu português. Como que para me convencer que o meu país estava ali dentro do meu cérebro e que não me abandonara. Tentava assim evitar que os meus pensamentos fugissem para o inglês, ou para o francês mal amanhado, ou ainda para o meu portuñol (versão pr´pria dum galego que não conhecia tão bem como isso), e, assim, manter o meu pedacinho rectangular junto ao mar na memória.

Caminhei os 15 metros que me separavam do rio para redescobrir as garrafas que lá havia posto no dia anterior, geladas pela àgua que descongelava das montanhas ali perto, ao alcance dos meus olhos. Dei um mergulho rápido, sentei-me na margem, tirei o isqueiro do bolso das minhas calças estendidas na relva da margem, abri a Lech e saboreei cada golo como se fosse ambrosia divina a escorrer-me pelas goelas.

Há cerca de três dias que não comia uma refeição digna do nome e, algo me dizia que não o faria tão cedo, mas sentira-me bem até há noite anterior, de embriaguez em embriaguez atirara no meu pensamento, a fome que sentia para a gula, mas neste momento em que essa sensação passara, o meu estômago aproveitava para apregoar as suas queixas à minha cabeça, mas tirando os projectos de maçã, "E mal os posso considerar mais que um petisco", não tinha nada por perto, pelo que tomara a decisão de beber duas cervejas de rajada para enganar o organismo. Abri a segunda, e ao fim desse segundo meio litro em jejum, já me sentia trôpego o suficiente para me perder a pensar noutros assuntos. Arrumei as minhas coisas, voltei ao rio, recolhi as garrafas cheias e vazias pondo-as na minha mala de tiracolo, e segui em direcção à nascentedo rio, seguindo também o pensamento de

que subindo a montanha poderia ver toda a região à minha volta.

Fresco do banho e com as pernas descansadas da noite, avançava a um bom ritmo por entre as árvores, sempre paralelo ao rio, e mantive o ritmo durante um bom par de horas. talvez mais... Começara, no entanto a suar, o que significava que o álcool saía do meu organismo na mesma proporção em que as dores de estômago e de cabeça voltavam. Ia bebendo água do rio para me ir enchendo e ludibriar a fome que sentia. Tentava guardar o álcool o mais possível por não saber quanto tempo passaria sem ver gente.

De súbito, ao virar do rio, o meu maior medo concretizara-se. À minha frente, o arvoredo acabava, e, a paisagem abria-se numa planície verdejante, polvilhada pelo amarelo e rosa das flores que saltavam por entre a relva. Por mais bonita que fosse esta visão "E é-o de facto" significava também o fim da sombra, e isso assustara-me. Tentei seguir o rio com os olhos, para ver se haveria alguma floresta por perto, mas apenas um ou outro carvalho isolado me apareciam, nada que me protegesse dos mais de 30 graus do Sol polaco.

Voltar para trás também não era uma opção muito atraente, ao todo devia já ter percorrido umas 9/10 horas a pé desde o ponto onde o búlgaro me deixara. fosse como fosse também não sabia a partir daí como chegar à localidade mais próxima, pelo que decidi afastar-me do rio, e tentar subir a montanha por entre a floresta, e assim evitar o pico de calor.


___________________



A ouvir:


"God's gonna cut you down"


Johny Cash


álbum: American V: A Hundred Highways


link

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Zakopane pt.2

As silvas roçavam-me as pernas, mas eu imaginava-me no meu God mode, invulnerável, insensível, dominador. Alguns pardais cantavam como que rindo-se da minha clara inaptidão para homem do mato. Tropeçava a cada 3 passos, parava para cheirar arbustos e árvores, e o meu aspecto devia ser, já de si, andrajoso o suficiente para fazer rir-se qualquer animal que me pusesse a vista em cima.

Entre duas árvores vi a promessa cristalina cumprir-se, saltei o monte de terra e aterrei "splash" de sapatilhas na água com a inocência de "Gigantic" dos Pixies a ecoar-me na imaginação, num momento puramente adolescente e feliz, "Hey pal Hey pal Hey pal let's have a ball". Dirigi-me ao outro lado da margem e pousei a mochila na relva seca. Tirei as 3 latas de cerveja e a garrafa de vodka que ainda estava por abrir, prenda de uma qualquer miúda da noite de ontem, encantada com o meu cabelo escuro e paleio estragado de pseudo-intelectual enquanto eu lhe dizia em voz alta e confiante:

"Mas estás a entender mal, poéticos são os teus olhos, e não é, repara, não é que eu me esteja a fazer a ti, não, não, NÃO!!" E virando-me para o lado cantarolava para o polaco que estava à minha beira "Sorry Sir it couldn't be further grom my mind" e ria-me feito perdido até perceber que ela ainda aguardava a continuação do diálogo e então olhando-lhe nos olhos retomava como se a interrupção fosse a coisa mais natural do mundo: "Tenho alguém que não o Lou Reed na cabeça" gracejava " e nunca poderíamos ter algo que não apenas físico, nós os dois... És demasiado perfeita nos meus cânones. Os teus olhos azuis claros, frios e gelados são quase locus horrendus na minha óptica, pela antecipação da dor que sentiria ao partir-te o coração. Além disso o teu sotaque polaco, rústico, encantador, de quem tem as dores recentes dum país tão sofrido, tudo isso sobressai na tua voz rouca, no teu sotaque pausado povoado por chs em vez de ss's, nos teus olhos desse azul quase morto, desprovido de emoção, no teu cabelo tão louro, na tua pele leitosa de tão branca, nos teus lábios tão rosados, toda a tua etnia e legado cultural e biológico é revelada em todas estas características, e tal prova-me que a tua vida é bem mais próxima das tuas raízes, e, só por aí tão mais artística, porque o que são afinal a poesia e a arte senão formas de nos manter ligados a essas mesmas raízes? És tu a artista aqui, não eu, tu expressas-te em cada expiração, em cada olhar, em cada gesto... E eu por muito que o quisesse fazer nunca o conseguiria fazer. Talvez a polka que dancei contigo tenha sido o mais próximo que estive de ser o artista que tu és, e agradeço-te por tal."

E ela rira-se fazendo-me sentir bêbado, mas agora sozinho, percebia claramente o fio condutor (se bem que caótico) do meu prório pensamento, e, o quão lógico era tudo o que dissera.

Mergulhei as latas e a garrafa à sombra, na água transparente e gélida para arrefecerem, tirei e atirei a roupa para cima da mochila e deitei-me no meio do rio, tomando o meu primeiro banho em dois dias,

enquanto imaginava destinos possíveis se me deixasse boiar assim nu na direcção da corrente fria. Imaginei um urso observando-me atrás das árvores, junto à margem à sombra dos arbustos polvilhad

os de coloridas bagas, e gritei-lhe:

"Anda grande mamífero gigantesco, ser impotente de pêlo escuro e de pose intimidante, não tenhas medo de mim, aproxima-te, anda partilhar este leito de água fresca com que a Natureza nos brinda a ambos, a ti Rei desta floresta, e, a mim, Deus da minha vida. Anda ser-te perto de mim para que ambos possamos tirar algo deste momento" Nada se mexeu, e, um olhar mais atento revelou-me a substituição do pêlo imaginado por uma ilusão das sombras. Ri-me do quão ridículo acabara de ser, e senti-me absurdamente feliz.. Os acordes de Sofa Surfers povoavam-me os ouvidos... "Can I get a witness..."


_________________________


A ouvir:

"I'm waiting for the man"

The Velvet Underground

The Velvet Underground and Nico





"Gigantic"


Pixies


álbum: Surfer Rosa


link






Can I get a witness


Sofa Surfers


álbum: See the light


link (faço aqui uma chamada de atenção para o seguinte, este videoclip é gravado no Loos American Bar, sítio onde quando estava a viver em Viena era lugar de muita escrita também... um sitio fantástico, a que toda a gente que passe pela cidade devia dedicar uns minutitos se possível. E já agora que estou numa de guia turístico é obrigatório irem ao Flex :p)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Zakopane pt.1

Início da transcrição do que no meu bloco de notas se foi criando por terras polacas, tentarei publicar uma nova parte todos os dias, ou de dois em dois dias no máximo, espero que gostem... como é hábito tentarei associar uma música a cada parte da história publicada também, embora provavelmente nem sempre me será possível lembrar da música exacta que estava a ouvir quando escrevi o excerto em causa, dado que desta vez fui deixando o leitor de mp3 rodando... ainda assim, aqui fica:

Zakopane

"Here?" indagou surpreendido no seu inglês seguro, mas fortemente sotaqueado.

"Yeah, exactly here" respondi eu.

"But this is nowhere, the next village is at least 20 Km away." continuou ele.

Thank you, but the landscape is calling me. There's something waiting for me around here, I'm sure of it..."

"You're nuts, there's nothing here except for tre

es and mountains..."

"I ain't nuts, really, I'm sure of this, Simon lives here."

"How do you know?How the hell would you know? You just told me you were never there, you don't even have an address, you don't know the landscape, you don't know the language, you've to be completely stupid to want to go out here man..."

"I just know ok? I just know... Thank you for the ride, thank you for the company, but the landscape's calling me and I've to go."

Abri a porta e saí, o búlgaro saiu irritado, e de um gesto brusco abriu a mala, tirei a mochila, agradeci mais uma vez.

"Are you sure you want to stay here, in the middle of the wild, with no way of contacting anyone else, risking to get lost?"

"Yes man... No problem, really, I'll manage, thank you..."

"Ok bye... good luck you nuts portuguese."

"Bye."


Meteu-se no Corsa vermelho, coberto de pó, derrapou por meio segundo na gravilha e arrancou em direcção ao seu próximo nada apitando duas vezes. Acenei-lhe, sustive a respiração e virei-me para a floresta imensa nas minhas costas. Quando a poeira assentou, tentei redescobrir com o olhar a minha boleia até aqui, mas tinha já virado na estrada e embora ouvi-se o som do carro a ecoar pelo vale já não o via, tapado pelas árvores gigantescas que ladeavam a estrada escondendo verdadeiros mundos para longe do caminho certo da estrada...

Localização desconhecida, tempo incertp, algures entres a flores coloridas nos arbustos do fim de Primavera e os primeiros frutos, ainda verdes e minúsculos a penderem nas árvores, chamando o Verão.

Ao longe e no seu azul distanciado, as montanhas cercavam-me a mim e à paisagem, e, revelavam-me o porquê de não existir por cá nem uma ponta de vento pronto para afastar o calor exagerado que o Sol causava. A estrada cheia de poeira à minha frente iludia-me com inúmeras poças imaginárias e, a sua promes

sa vã de chuva para arrefecer o clima, mas, olhando para o céu nem uma nuvem me brindava... nem uma. A completa inexistência do cinzento como que a negar-me o conforto de me sentir em casa no meio da chuva.

O búlgaro que minutos antes me dera boleia achara-me maluco. "O raio do português, no meio do grande nada verde polaco, à procura de um amigo que nã

o vê há anos, sem saber a morada, sem conhecer a língua, sabendo que é algures nas montanhas de Zakopane e que tem um rio por perto? Caralho para o hippie ou o caraças..."

Eu lia-lhe as palavras nos olhos e a única coisa que me apetecia era berrar-lhe "HIPPIE O TANAS PÁ. HIPPIE O TANAS! BEATNICK E DOS BONS PORRA." Mas o homem estava já a ser simpático que chegasse em fazer um desvio de mais de 30 Km em troca duma Zwyec, e, como beatnick que me sabia (sei?), gostava destes bancos cinzentos e estofados onde o meu rabo descansava tal e qual rei do meu corpo, fazendo algo que o cérebro, dividido entre bebedeiras absurdamente agressivas, dormidas de duas horas, diálogos sobre o futuro da Europa e do Mundo e dos diferentes eus que era a cada noite (estudante, viajante, trabalhador, artista, boémio, o que quer que entretesse os meus companheiros de cerveja e vodka) não poderia nem que quisesse fazer.

Ouvia água não muito longe, cantando-me tal qual sereia aos ouvidos, e decidi então correr ao seu encontro...





(continua amanhããããã)



____________________



A ouvir:


" Hear My Train A Comin' "


Jimy Hendrix


àlbum: Radio One


link


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Avacalho parte um.

Acabado de chegar de um dia inteiro de viagem ainda suado e mal cheiroso, e um amigo por telemóvel lembrou-me disto que eu via e ouvira há umas semanas curiosamente dois dias antes do fantástico rap e francesinhas organizado pelo mano Stray, e lembrei-me que ninguém estaria à espera que o primeiro post depois da minha volta de Cracóvia seria com isto...

Vivá Surpresa...

Antes de mais, uma nota introdutória, os Governo Sombra, até são uma banda que admiro muito... Gera do old school andam cá desde os tempos de triângulo dourado o que nestas andanças do rap tuga significam praí 9/10 anos? Talvez mais? Provavelmente...
Quanto a este clip especificamente... pá... eu continuo a achar que os gajos fizeram isto numa de avacalho... ninguém me tira isso da cabeça, e visto nesse prisma o vídeo está mais que bem conseguido... Para se rirem da ironia (que eu quero acreditar que é mesmo o efeito pretendido) cá fica: Mc's da primeira liga / Tira Fora...



Dá-lhe brita infinita....

Ah... para quem depois disto e do interregno forçado ainda se lembrar do propósito deste blog, fica aí a boa notícia que o meu bloco de notas A5 vem com umas 20/30 páginas novas de uma história que começará amanhã a ser postada no blog... Agora, vou finalmente tomar banho... (já vos ouço a todas a cantar em uníssono: "Tira Fora" XD )

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Andanças polacas

E a verdade é que ela não dançou :'(


ainda.....???

Anteontem vi estrela cadente... será que o desejo ainda se realiza? bom... nos próximos dias estou em Cracóvia, como duvido seriamente que ela corra atrás de mim até lá, aguento mais uma semana e picos para a convidar de novo...

Ai menina de olhos verdes, menina de olhos verdes :)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pedacinho de andanças

Eu a ver violinos por cá, e ela a vê-los na praia.


Tão bom...

Ela ri-se, eu sorrio, ela enterra a cara na toalha, eu rodopio...

Estico o braço:
"A menina dança?"

Para a semana vê-se :)

sábado, 1 de agosto de 2009

Andanças

Declaro férias neste blog... de hoje até Segunda feira dia 10, ninguém cá me apanha... Vou para esse pedacinho de paz chamado andanças, soltar o espírito, descarregar mágoas, e carregar-me de esperançazinhas minúsculas de que o mundo seja um dia todo ele um andanças, ou pelo menos aquilo que o andanças há 4 anos representa para mim...


"Olho verde acastanhado e diferente do meu verde cinzento, tens mais vida tu, sim...
Tens vontade de rir e aprender e ser-te em ti mais do que nos outros, e deixas o meu olho com vontade de saltar da órbita para correr atrás de ti, mundo fora, vida fora, eternidade talvez (sendo a eternidade o mundo e a vida esta noite d'hoje)... não por te querer ser mais do que se é a si próprio, mas antes por querer aprender a ser como tu, para poder deixar-te à vontade no teu espaço, sem o invadir, mas tendo permissão para entrar sempre que ambos o entenderem...

Olho verde acastanhado que fazes o meu olho verde cinzento sonhar aos poucos... obrigado."



Ah complementando o post anterior e uma conversa tida ontem com a ti Sara. Isto é que é a mazurka de que tantas vezes falo:

mazurka 1
mazurka 2

E aqui exemplos de mazurkas tocadas:

mazurka auditiva 1
mazurka auditiva 2

E esta vai só para a ti Lua, que tão bondosamente faz o sacrifício de cá passar para ler os meus posts (coitadinha...) toma lá para matares saudades:

mazurka auditiva com pontinha de saudade

quarta-feira, 29 de julho de 2009

a ti Sara...

3 cafés, 2 rissóis um compal de maçã... Já viste as coisas que te devo?

Os mil e um sorrisos, a companhia no Porto Leixões (em que te deixei lá longe), a companhia no hip hop sinfónico (em que tu foste lá para longe), a visita à Portucalense, a noite em Cortegaça, a recusa para dançar em Aveiro, o bar do Sr. José, o Neptuno (vês que já sei os nomes?), a aversão a gatos, o cheirinho a praia, a independência extrema, o olhar que parece não me querer ler a alma toda (e que me faz sentir bem por isso mesmo), as mensagens de bom dia, as mensagens de boa noite, e uma vontade do caraças de passar mais bocadinhos da minha vida contigo... Viesses tu ao andanças e devia-te meia vida (riste-te agora?confessa).


A ti Sara...

A ti Sara é uma lufada de ar fresco na minha vida que já cheirava a mofo.

A ti Sara fez o download de músicas do Jeffrey Lewis, e de Sonic Youth, depois de eu escrever posts no blog, e na terceira vez que a vi gostou de De la Soul e de Doors.

A ti Sara é independente e deixa-me algo à toa e inseguro com a sua independência, mas tem sempre um sorriso para me dar, e faz-me sentir confortável quando estamos juntos.


Não fumo à frente da ti Sara, aliás, reduzi drasticamente os cigarros desde que a conheci, não propriamente por ela, é mais uma das muitas desculpas que uso para me convencer que consigo fazer as coisas melhor se não as fizer por mim.


A ti Sara...

A ti Sara tem um cabelo encaracolado espectacularmente longo e bonito, tem um nariz que lhe vai mais que bem com o sorriso.

A ti Sara usa um top preto que lhe assenta lindamente, e anda sempre com uma camisola que só lhe cobre os braços morenos e que a faz parecer frágil apesar de toda a força que demonstra.

A ti Sara tem a mania de andar com o telemóvel para todo o lado, sempre a escrever mensagens, mas sinceramente e ao contrário do que normalmente me acontece, não me irrita, sei que ela também me escreve mil e uma vezes na presença de outras pessoas, e isso deixa-me feliz.


Uma vez escrevi-lhe uma mensagem demasiado entusiasmada após uns copos de vodka e de cerveja e de whiskey, a resposta seguiu-se às 8 da manhã, correcta, sincera, simpática como a ti Sara sempre foi comigo, e fiquei a gostar mais um pedacito dela, e sem dúvida a respeitá-la bem mais.


A ti Sara...

A ti Sara faz-me cantarolar músicas pirosas que nunca ouviria se não a conhecesse, não porque ela mas mostre, mas porque têm outro significado agora (ráspartam o James Morrison e o seu "you make it real for me" lol).

A ti Sara é bonita... muito bonita mesmo, com aquele sorriso envergonhado, ou com o sorriso aberto, ou com aquele ar de quem pensa na morte da bezerra, ou quando está preocupada com alguma coisa, ou quando fala de qualquer coisa de que gosta, ou quando fala de algo que a irrita, e larga sempre uma gargalhada quando eu faço piadas, mesmo que desajeitadas.

A ti Sara cheira sempre bem, umas vezes a mar, outras a shampô (de côco?) e outras ainda, a perfume.


Como diz o Tiago, o cheiro de uma menina mexe bastante connosco, e o seu ti Sara, mexe comigo...

"E mexe remexe se enrola se enrosca... " (vês a parte das músicas pirosas?)


A ti Sara...

A ti Sara teve um cão chamado Drulovic, tem um cão chamado Deco, e uma cadela chamada Violeta.

A ti Sara é uma portista ferrenha, mais que eu provavelmente, e ficou triste com a ida do Lucho para Marselha.

A ti Sara quer acabar o curso de direito e ir para África trabalhar em direito animal. Continuo a rir-me por dentro ao imaginar um antílope a entrar-lhe pelo escritório e a pedir-lhe para o defender dos Leões que não cumprem a Declaração Universal dos Direitos do Reino Animal, ou ao visualizar as cabras montanhesas a queixarem-se que os Estados Unidos não cumprem o tratado de Kioto e que o Kilimanjaro está a ficar sem neve.


E eu que fiquei com o bichinho de África, desde Angola... Há coisas que não se dizem ti Sara, são demasiado encantadoras.

Contei à ti Sara o meu sonho no primeiro café que tomámos, e ela sorriu e, apesar de algo descabido, e do café não ter corrido tão bem como esperava, foi das primeiras pessoas a não me chamar ingénuo ou a dizer-me "não sejas palerma, acorda para a vida.", a minha admiração por ela cresceu um bocadinho ai.

A ti Sara disse-me "porque é que ouves artistas mortos? Não é como se eles fossem lançar álbuns novos agora" e eu tremi por dentro, disse-me que lia Margarida Rebelo Pinto e eu congelei, agora entendo que a primeira parte foi brincadeira (certo?)... Mas confesso que na altura não achei... sou parvo.


A ti Sara...

A ti Sara tem-me aturado, e sinceramente ainda não percebi porquê, mas gosto que me ature...

A ti Sara diz que gosta do que eu escrevo, mesmo quando eu acho que é algo nheca e é mais por ela que eu tenho escrito tanto no blog.

A ti Sara merecia um texto bastante melhor que este... mas a ti Sara tem de cafézar mais umas vezes comigo para eu lhe sacar a pinta toda...


E sim ti Sara, gosto de si meio danoninho... Apesar do leite usado para o fazer...

Espero que estejas já no nosso rendez vous... não te esqueças, terra dos sonhos, terceiro coqueiro na estrada para o Burkina Faso, eu estou lá com o meu acordeão para que sigas o som...

Um dia destes vou-te ensinar a mazurka menina, prometo que vou treinar direitinho no andanças, para que depois não te pise pés...


_____________________



A ouvir:


"Plenty"


Guru (Jazzmatazz) feat. Erykah Badu


álbum:Street Soul vol.3


link

Janina

Este texto vem duma brincadeira feita com a Ana, uma amiga que possui um dom de escrita fantástico e com quem iria partilhar um blog, coisa que felizmente não aconteceu pois assim tenho eu o meu e ela o dela, e fico muito contente por isso mesmo. O exercício consistia em fazermos a descrição de uma amiga comum, a Janina, pessoa bonita e alegre e que encanta todos quantos a conheçam... o resultado do exercício da Ana está no seguinte link: link

Para este dispenso a rubrica do "A ouvir" pois já não me lembro o que estava a ouvir quando escrevi isto...




Janina



Yemanja deusa do mar por vezes, o fino ao pôr do Sol e o seu sorriso aberto nas outras...


Acho que nunca vi a Janina séria, acho que nunca a vi sem aquele esgar de quem vive porque a vida vale realmente a pena. Sempre que olho para ela penso que a podia ver num qualquer sítio e nunca estranhar, é o tipo de pessoa que não só está bem em todo o lado como faz os possíveis para que todos se sintam bem em seu redor.


Já me aturaste tanta treta ti Janas...


Tem uma luzinha interior que topei desde a primeira vez que a vi, aquece-nos de forma tão clara e evidente que ficamos com a impressão de que lhe é facílimo fazê-lo... Com o tempo percebo que às tantas lhe é mesmo...

Nunca confiei muito nas pessoas, embora seja fácil conquistar-me para determinado espaço, mas nunca foi fácil a ninguém manter-me perto, mas o centro gravitacional dela é de tal forma imenso que fico com a leve sensação que será sempre difícil escapar-lhe...

Não fossem as circunstâncias...


Sinto algo de não familiar quando falo com ela, sinto-me confortável e à vontade, e tenho vontade de explodir em segredos por saber que ela sorrirá e dirá "não te preocupes, não o direi a ninguém". Sei que lhe custa, por parva que seja, a minha incapacidade de me manter algo fixo. E é estúpido tendo em conta o quão pouco nos conhecemos (ela conhecer-me-á melhor do que a conheço a ela certamente). É estranho que das muito poucas pessoas que me viram no meu melhor e no meu pior ela, que conheço há meia dúzia de meses, seja uma delas. E não obstante isso dá a impressão de se preocupar e

de perdoar as inúmeras asneiras que faço.


A Janina é no fundo igual a ela própria, lábios abertos cabelo encaracolado e rastas e terérés.


A Janina viu cinematic orchestra comigo e virou-se para trás e disse-me "espectáculo".

A Janina leu uma mensagem que mandei a alguém num pico de felicidade e respondeu-me "e olaré". A Janina deixa-me com saudades dum mundo de que me afasto a cada dia que passa por inércia de me ser com outros. Com mais saudades do que algumas outras presenças de longa data. A Janina fica encavacada com o meu gozo sobre o seu suposto romance com outra personagem em tudo bom essencialmente no coração, e eles merecem-se no mundo um do outro, da forma que decidirem ser um com o outro. E faz-me feliz que boas pessoas encontrem boas pessoas, e invejo-os por não conseguir ser um deles.


Eu achava que a Janina se chamava Janine, mas ela tem pouco de francesa, muito de Espinho, e, tal como o nosso elo de ligação, muito de Andanças sem nunca lá terem estado. Nesse momento em que estava a criar um novo eu tomei-as às duas como exemplo e pilar... Neste momento em que me sei um eu mais antigo e escuro tenho-as como referência de que um dia sonhei.


Nunca vi as suas obras de arte, mas tenho a certeza que é boa artista, mais genuína e simples que eu de certeza absoluta, e se não o é na tela, é-o com certeza na vida...


Nina de Jah é um bom nome sim senhor... É tão paz quanto possível, tanto quanto eu gostaria de ser.