domingo, 2 de maio de 2010

Do alto do monte do largo da Igreja da Malpartida

Não foram quiçá os acordes pirosó-alegres do Metheny?
Ou os desafinanços crassos dos fadistas do La Feria?
Ou as noites mal dormidas de ontem, e anteontem?
E d'antes e d'hoje.

E Dantes é hoje comédia?
Não divina, mundana,
Na boca de quem de Infernos fala
Sem despeito algum em criá-los.

E minha geração reclama,
Ao café curto,
Ao copo de fino
Ao recibo que de esperança só tem a cor.

E minha geração não reclama
Ao Estado
Á comunicação social
Ás ruas.

Muito menos aos que nos puseram aqui,
e,
nos culpam de cá estarmos.

VOCÊS,
VOCÊS MATARAM O 25 do 4
VOCÊS MATARAM O 1 do 5
VOCÊS MATARAM A PRIMAVERA DO 74
VOCÊS MATARAM O VERÃO DO 75.

Agora acusam-nos
da violência
da falta de pensamento crítico
da falta de classe
do não sermos politicamente correctos
do não sermos socialmente maduros
de sermos ignorantes...

E para mim o correcto não é o politicamente
A cultura, a classe, a maturidade
Está em ser-me e em deixar ser,
E em viver verdade...

E na verdade...
QUERO QUE VOCÊS SE FODAM
Mais os críticos e os lambe-botas
E os nacionalistas e os instalados
E os subsidiários e os políticos
E os moralistas e os colunistas
E os escritores (aqueles mesmo de cordel e de pseudices que são quase quase quase quase todos)
E a comandita da Capital
E os ladrões do capital
E os banqueiros e os gestores das públicas
E mais os Mellos e os Champalimauds
E mais os Soares e os Coelhos
E os que dizem que o Saramago é que é ché ché
E que o Jardim diz as verdades
E que o Sócrates é líder
E que o Marcelo sabe.
E as caras da Caras
E as sombras por trás das caras
E as maçonarias e as secretas (a podridão do organismo social)
E as finanças e os défices (os botoxes do mesmo)
E os que não sabem fazer um filme sem mostrar mamas
E os que não sabem fazer um filme fora dum computador
E os que não sabem escrever sem um monitor
E os que não gostam de palavrões mas gostam de dizer "V O C Ê"...

Sigam-nos alegremente ribanceira abaixo...
Não nos fazem cá falta nenhuma.

Eu cá virei já as costas há muito
Sou nortenho, europeu e só depois, bastante depois português
Não porque não ame a minha pátria
Mas porque sempre que ouço falar em Portugal, me lembro de vocês...

E para mim, Lisboa não é capital.
Pobre e bela Lisboa, melhor sorte merecia
Lisboa é Lisboa apesar da Capital
E do Capital...

E da corja...

Cambada de Dantas.