domingo, 11 de outubro de 2009

rejeição

"Outra vez com essa cara moço?" perguntou...

"Parece que não me conheces outra, né?"

"Então que é que se passou desta vez?"

"Lembras-te da miúda dos caracóis?"

E exorcizou-a em palavras, como se o facto de a descrever o obrigasse a admitir o absurdo que era pensar em alguém de forma tão grande, tão pura, tão amável...

E contou tudo, desde o sorriso que ela lhe dera, como o sorriso que ele não lhe conseguira dar, o caminho do nervoso miudinho à paixoneta ao incómodo e ao inevitável nada. Mais uma que se interessara fazendo-o imaginar que as coisas poderiam melhorar e ficar boas, mais uma que perdera o interesse e se afastara mesmo que ele não a quisesse prender, ampla história da sua vida. Ampla história da vida de todos os que estão pré-destinados a nunca serem mais do que tentativa.

"E o mais surpreendente é que eu nem a queria assim tanto" acabou por confessar "mas a ideia de voltar a ter alguém sorriu-me tanto..."

"Deixa... outras aparecerão rapaz...aparecem sempre..."

"Pois, mas era mesmo dela que eu gostava... a rejeição tem sempre este efeito, amplifica sempre o nada que sentíamos ao ponto de parecer alguma coisa..."

"True son, so true..."

E a Lua de amarela passara a branca lá em cima e o mar acalmara o suficiente para um mergulho às 3 da manhã...



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A ouvir:


João Gilberto


"Insensatez"


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