Dedicado a N.
At the beggining there were two...
E não sendo perfeito, era bom, talvez mais que bom... Havia esperança em serem-se individualmente, mas não extremos.
Havia aquela sensação de conforto, havia as mensagens noite fora, havia o "estou cá... se precisas eu estou cá", havia uma rede para o trapézio, e vontade de treinar, até ao momento em que a rede não mais fosse precisa, até ao ponto em que a corda poderia ser substituída por um fio de seda apenas, e que, de tão leves, eles conseguissem atravessá-lo vezes e vezes sem conta, de olhos fechados...
And she felt scared...
E no medo de se entregar, e na desilusão de ele não ser o que ela procurara, e no não querer magoá-lo, foi-o afastando de si sem nunca lhe dar a oportunidade de tentar mostrar que podia tornar-se no que ela queria, sem no entanto, perder a sua essência, porque o que ela procurava era o que ele sempre tinha querido ser.
And then there was one...
E o um que ficou não se perdoaria nunca por ser tão nada, tão desnecessário, tão inútil. O um que ficou sabia que era o único que ainda pensava nisso, sabia que a disparidade entre ambos era gigantesca, e arrependia-se a cada momento por se ter recusado a acreditar que tal fosse verdade.
And the ocasional meetings happened...
E uma e outra vez ele sentia-se cada vez mais a mais, sempre que tentava aproximar-se do seu próprio mundo, que era agora também dela, apenas para poder ver nela um sorriso que fosse, sentia-se empurrado para longe, longe do que antes tinha (ainda sem ela), longe do que ambos tiveram, longe do que tinha lutado tanto para conseguir.
And finally he decided to live...
E tentou levantar a cabeça, e recriar-se noutro sítio, com novas personagens, com vontade de pegar nos pedacinhos, que ela achara ter-lhe ensinado mas que ele já tinha dentro de si muito antes dela aparecer, e voltar a ser o que sempre quisera ser. Mais confiante em si e nos outros, mais focado no futuro, mais ele.
And it seemed to work out...
E por momentos ele achou-se bem, conseguia sorrir sinceramente (pensava), e conseguia pensar nela apenas com carinho e saudade, e cada vez mais sem dor. E ela que lhe parecera tão distante, continuava lá longe, mas ele sentia-se a aproximar da sua AMIZADE a cada passo que dava, não porque tivesse uma esperança desmedida de que essa viesse a acontecer (de facto parecia-lhe quase impossível), mas porque começava a sentir-se um ser humano melhor, e, por isso mesmo, merecedor de pelo menos isso.
And they happened to meet again...
E ele nem coragem teve para lhe perguntar "está tudo bem?". Com que direito? Se ela o tinha expulsado tão categoricamente do seu (do deles, do dela e inadvertidamente e sem intenção do dele também) mundo, como iria ele algum dia achar-se menos que um invasor do seu (dela apenas) espaço?
Queria apenas mostrar-lhe que apesar do quão inútil ela sempre o fizera sentir, que entendia que não tinha sido por mal, e que o carinho e a preocupação permaneciam e que eram genuínos e grandes. Mas ela nunca lhe dera o espaço para que tal acontecesse.
No fim de contas ele tinha-lhe dito "faz de mim o que precisares" e ela fez dele o monstro de que precisava para não ter de se preocupar mais com os seus medos.
Disseram-lhe (a ele) uma e outra vez que era o único que ainda sofria com tudo aquilo, que estava na altura de andar para a frente, mas ele não podia dar aquela situação por resolvida...
Time and space never healed anything...
E era essa a única lição que ele sempre pretendera que ela aprendesse com ele, e mais uma vez tinha falhado...E mais uma vez estava sozinho na sua cela com as tais paredes negras de 40 metros de altura, a culpar-se por cada passo, apenas porque nunca tinha querido fazê-la sentir peso algum, mas porque desde o início sabia que não era suficientemente forte para arcar com tudo o que ela indirectamente lhe pedira, mas ao menos, (ele) tinha tentado, e acima de tudo, mostrado vontade de lutar por eles, eventualmente por si, mas sempre por ela.
E o saber que mais uma vez não passara de uma "tentativa" e ainda por cima falhada, e que mesmo depois disso, apesar dos erros de ambas as partes ele tinha dado tudo o que tinha (incluindo assumir as culpas de tudo inclusivé do que não era culpa dele, incluindo abandonar o seu (dele) mundo para o seu (dela) conforto, incluindo lidar com problemas que nem seus eram para que o mundo à volta dela ficasse mais leve, incluindo sofrer com tudo isto e ser acusado de fazer sofrer quando procurava um apoio que fosse) para solucionar algo sem solução, saber que mesmo depois de ter ficado practicamente sozinho, e sem nada que pudesse chamar de seu ainda iria sempre ser tido como "o fulano que fechou as portas" quando ela na realidade o tinha escorraçado do seu mundo muito antes de sequer o perceber.
De todas as coisas que ela achara ter partilhado com ele apenas uma lição ficara, e, decerto não a que ela pretendera que ficasse:
"You can't fly so close to the Sun and expect not to get burnt"
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A ouvir:
"Love will tear us appart"
Joy Division
àlbum: Closer